segunda-feira, novembro 13, 2017

Reflexões lentas... e (que se pretendem) muito sérias

De há uns tempos para cá parece que muita gente perdeu a noção do equilíbrio. No que faz, no que diz, como se reage ao que é feito ou dito.
Parece que se quer imitar (ou provocar) a natureza com os seus incêndios ("naturais"?), as suas secas (nunca mais chove que se veja...), as cheias (que se esperam a  seguir). E muito sossegada anda ela cá por estes lados, que por outras paragens as coisas têm estado mais descontroladas, com ventos em furacões e sismos em escalas que Richter ou Mercalli medem em números felizmente raros!
Então no que respeita à política, anda o mundo desaustinado, com a agitação apalhaçada de Trump, os ensaios funambulescos de Kim, o pouco referido mas muito relevante congresso do PC da China, a des-União Europeia a procurar desatar pares de botas como Brexit e Catalunha, o "sentimento russo" de Putin, as "chilesices" para com a Venezuela a alternarem com a aparente acalmia na Síria, a África em confusão por vários sítios, sempre nas malhas de uma herança colonial que veio impedir naturais evoluções e acirrar rivalidades étnicas, e mais tantos lugares de que a comunicação social "oficial" não trata (ou o faz com intermitências nada neutras) mas que não estarão em aquietado sossego.
E nós por cá? Todos bem? Qual quê! Frequentes desatinos num jogo desembestado de assacar irresponsavelmente responsabilidades aos "outros" quando tão necessário seria responsavelmente apurar responsabilidades, e agir conforme e consoante estas. Mas não. Muito fogo fátuo, declarações a redundar (que algum dizia, ignorantemente, "a arredondar"...) em pouca coisa, por vezes a propósito de nada, ou de quase nada, ou a despropósito. Ou enorme espalhafato para levantar ondas de poeira que escondam o que "outros" querem revelar com semelhante barulho para serem ouvidos.

Duas questões me trazem à reflexão:
1. A força de trabalho não qualificada, de baixa remuneração e os números do desemprego.
Depois de terem sido de susto, os recentes números do desemprego deveriam animar-nos. Mas a baixa dessa temperatura no "termómetro da economia" não tranquiliza quanto ao estado de saúde porque o emprego é feito em postos de trabalho de baixa qualificação, em situações de precariedade (turismo, sazonais), sem direitos, na raia do salário mínimo. E, sendo assim, há quem se queixe de não encontrar trabalhadores disponíveis para empregos criados... por culpa da concorrência da protecção social, dos subsídios de desemprego, do que permite aos/às trabalhadores/as rendimento monetário próximo do nível salarial oferecido e menor precariedade... e "tempo livre" para a vidinha. Que contra-senso!

2. Ainda os resultados das autárquicas. O Barreiro.
Reportando a umas anteriores reflexões, em que se referia o sentimento de perda e preocupação relativamente a resultados eleitorais e se citava expressamente Almada, Beja, Peniche (talvez para "libertação" do peso específico dos resultados de Ourém...), deve juntar-se o significado da perda da câmara do Barreiro.
Desde tempos de estudante e de economista em começo de profissão, o Barreiro é simbólico. A CUF e a Siderurgia (com os estaleiros navais) simbolizavam a indústria "pesada", o cerne do operariado, de uma classe. Tanto assim que nunca se esquecem as referências aos receios, dúvidas e hesitações de Salazar, nos anos 50, quanto à localização da siderurgia (e do seu operariado) em Coina, por ser tão perto da CUF (e do seu operariado). 
Mas a vida é feita de mudança(s). Também nas classes. A burguesia não é igual ao que era no século xix, o proletariado não tem o mesmo perfil que tinha nessa altura (e nos meados do século xx). Mas continuam a existir como classes. E movem-se. E lutam entre si, mesmo quando os protagonistas dessa luta não o sabem ou o querem (ou fazem por) esquecer.
O município do Barreiro que teve o resultado das eleições de 1 de Outubro não é o mesmo Barreiro de há décadas, é aquele em que a CDU perdeu a maioria absoluta, tem 4 vereadores, o mesmo número que o mais votado PS, sobrando 1 para o PSD. Também no Barreiro, a luta continua! Igual, mas diferente.  

1 comentário:

Olinda disse...

Reflexões muito sérias!E,as de hoje postadas,dariam dariam pano para mangas de um debate bem alinhavado.Peguemos no Barreiro de hoje,que não se identifica de todo com o Barreiro industrializado ,cujos operários na sua maioria eram rurais alentejanos,que migraram em busca de trabalho.Já traziam uma grande percepção política e com sentido de classe.Essa vivencia foi muito similar com o principio da industrialização de Setúbal.Setúbal,sempre mais aburguesada,mas que sofreu muito com a desactivação das fábricas,dando origem a problemas gravíssimos,como casos concretos de fome.Isto,para dizer,que Setúbal,ganhou as autárquicas com maioria absoluta.Porque a candidata se identifica com essa mesma burguesia?Há muito trabalho feito,mas a vitória tem muito a ver com a personalidade da candidata.Como disse,tinhamos aqui material para reflectir muito sèriamente.Bjo