quinta-feira, fevereiro 23, 2017

Textos e contextos -selecção talvez antológica sobre pobreza, política e economia

do (quase) diário:

Para Dühring, «…tudo está tão suficientemente demonstrado pelo famoso pecado original, em que víamos Robinson escravizar "Sexta-feira"? Esta escravização era um ato de violência e, portanto, um ato político. E, como esse ato de dominação é o ponto de partida e o fato fundamental de toda a história até os nossos dias, introduzindo nela o pecado original da injustiça, embora um pouco atenuado ao se converter mais tarde "nas formas bem mais indiretas da dependência econômica", e, como desse avassalamento primitivo brota toda a "propriedade baseada na força", que vem até hoje imperando, é evidente que os fenómenos económicos têm a sua raiz em causas políticas e, mais concretamente, na violência. E quem não se conformar com essas deduções é (seria) um reacionário camuflado.»

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Contrapõe Engels «… mesmo admitindo, por um momento, que o Sr. Dühring tenha razão ao afirmar que toda a História, até aos nossos dias, tem as suas raízes na escravização do homem pelo homem, não chegaríamos, desse modo, nem aproximadamente, ao ponto nevrálgico da questão. Surgiria imediatamente a pergunta: que levou Robinson a escravizar "Sexta-feira"? Fez isso apenas por diversão? Sabemos que não. O que se nos afirma, pelo contrário, é que "Sexta-feira" era "espoliado como escravo, ou como simples instrumento para serviço económico, e mantido somente na categoria de instrumento". Robinson, portanto, escraviza "Sexta-feira" para que este trabalhe em seu beneficio. E como pode Robinson se aproveitar do trabalho de "Sexta-feira"? Somente conseguindo que "Sexta-feira" crie, por seu próprio trabalho, mais meios de vida do que os que Robinson possui para lhe fornecer, a fim de que se mantenha em condições para trabalhar (satisfação das necessidades para sobreviver). Isto é, Robinson, contra as prescrições expressas e imperativas do Sr. Dühring "não toma como ponto de partida um agrupamento político" criado por meio da escravização de "Sexta-feira", "por si mesmo considerando-o, pelo contrário, exclusivamente, como meios para fins ligados à subsistência" (… à satisfação das suas necessidades), e agora, ele que procure entender-se com o seu dono e Senhor.» 

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«… A mesma coisa que, como vemos, acontece com Robinson e "Sexta-feira", pode ser observada com todos os casos de poder e avassalamento de que nos fala a História. A escravização tem sido sempre, para empregar a elegante expressão do Sr. Dühring, um "meio para fins ligados à subsistência" (concebida a subsistência em seu sentido mais amplo) (… à satisfação das necessidades), sem ter sido em parte alguma um "agrupamento político", implantado graças a si mesmo. É preciso que se seja um Sr. Dühring para se poder imaginar que os impostos cobrados pelos Estados não são mais que "efeitos de segunda ordem" e que o "agrupamento político" de nossos dias, que coloca, de um lado, a burguesia poderosa e, de outro lado, o proletariado oprimido, chegou a existir graças a si mesmo, e não como conseqüência dos "fins de subsistência" dos burgueses dominantes, ou seja, pela produção de lucro e acumulação do capital.»

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Haveria muito mais a transcrever...

1 comentário:

Olinda disse...

Aprender,aprender,aprender.Bjo