domingo, janeiro 08, 2017

Um entre muitos, perante o escândalo

Ano novo, velho banco

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 06/01/2017)
quadros
No momento em que escrevo esta crónica (01.30 de quinta-feira), o destino do Novo Banco ainda é uma incógnita. Segundo fontes próximas do Banco de Portugal (o astrólogo do Doutor Carlos Costa), “a Lone Star é a mais bem colocada para ficar com Novo Banco”. A proposta da Lone Star, que visa a compra de 100% do Novo Banco, é de 750 milhões de euros, citando a mesma notícia. Eu tenho a teoria de que isto ainda acaba com o Novo Banco vendido à Padaria Portuguesa.
Recordo que a 5 de Agosto de 2014 (ver artigo neste jornal www.jornaldenegocios.pt/empresas/banca—financas/detalhe/novo_banco_vale_44_mil_milhoes) a questão discutida pelos analistas era se o Novo Banco valia ou não… 4,4 mil milhões de euros? E havia gente dividida…
Em dois anos, passámos da possibilidade de obter 4,4 mil milhões, pela venda, para 750 milhões (mais um fim-de-semana para duas pessoas em Benidorm). Não quero ser advogado do diabo, mas será que o Salgado não fazia melhor que o Stock da Cunha? 750 milhões pelo Novo Banco? Aposto que a Remax fazia melhor que o Sérgio Monteiro. Não podemos vender o Novo banco aos vistos gold? Ou aproveitar os balcões para fazer uns hostels?
Como se não bastasse, a proposta da Lone Star, segundo se diz, é em torno dos 750 milhões, mas a garantia pedida ao Estado é de 2,5 mil milhões de euros. Isto não é vender o Novo Banco, isto é ter de pagar pelo dote da mais nova. Perante estes números, eu não imagino que tipo de pessoas é que ainda têm conta no Novo Banco mas calculo que amanhã de manhã sejam menos de metade. Convém não esquecer que o BES foi dividido em BES bom e BES mau, e que o BES bom era este.
Mas a novela não acaba aqui, porque, no mesmo dia em que se fala da Lone Star, Mário Centeno não exclui possibilidade de nacionalização do Novo Banco. Talvez seja a melhor ideia se a colecção de obras de arte estiver ao nível do BPN. Esta possibilidade deixa-me uma dúvida: se o Novo Banco não for vendido e o Sérgio Monteiro foi pago para o vender, será que ele devolve a massa que lhe deram? Sempre é mais ou menos meio milhão que se poupa.
Acho que é chegada a altura de assumir que, finalmente, acertámos no grande desígnio de Portugal: somos uma nação que salva bancos. O primeiro país a abolir a pena de morte e a ter uma complacência infinita para com os banqueiros. Merecíamos um Luís de Camões capaz de narrar esta nova epopeia. Vistas bem as coisas, já gastámos mais dinheiro a salvar bancos que nos Descobrimentos.

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