domingo, janeiro 08, 2017

Ainda e sempre o mesmo

Ainda na página 5 deste caderno Economia, um texto não assinado que, a meu critério. merece ser lido e comentado.

Diz ele que se aproximam tempestades, ou pior, uma tempestade perfeita, e resume reforçando a ideia de que o "BCE não pode praticar duas políticas monetárias, uma para o centro, outra para a periferia. Entre as duas, é de supor que alinhará pelos interesses de Berlim":























  • é de supor!
  • assim como é pressuposto que, no centro, os interesses de Berlim prevalecerão;
  • assim como se supõe e pressupõe que os supostos e os pressupostos são fatais, e que não há outro remédio senão o da defesa civil... contra as tempestades.
Mas vamos lá a ver. Como quem divide orações...
O facto dos juros de referência aumentarem no centro só implica efeitos na periferia se os juros aumentarem também na periferia. 
Ou, de outra maneira, a travagem, ou o não estímulo ao crescimento das economias resultaria dos riscos ou receios de inflação. Ao que o BCE é muito sensível, como aliás está na sua génese e originou a valorização do euro que tão prejudicial foi à periferia, nomeadamente a Portugal.
É neste jogo de taxas de juro do banco central que se baseia toda a política económica comandada pelas forças do mercado, isto é, não pela "mão invisível" mas pelos banqueiros mandatados por essas forças mais fortes.
Tensões inflacionistas no centro até poderiam beneficiar a periferia se, nesta, se pudessem manter as moedas estáveis ou até desvalorizá-las relativamente a eventuais importadores ou turistas. Não o podendo fazer por ser só um o banco e só uma a moeda, a periferia sofre o ónus do aumento das taxas de juro que interessa ao centro no seu serviço de dívida a somar ao não aproveitamento de eventuais vantagens.
Mas esta dinâmica do capitalismo de criação, na Europa, de uma integração de Estados com um centro e uma periferia (e duas velocidades) vem sendo criada desde a década de 70 (e acelerada com Maastrich), e para isso existe a moeda e o banco central únicos.
A única maneira de se evitarem tempestades (não naturais) é identificar as suas causas e ter força para as anular. E essa força ganha-se com o esclarecimento, a começar pelo da não inevitabilidade dessas causas e a não espera de milagres com visitas papais... 

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