terça-feira, dezembro 06, 2016

Pós-Congresso (um resumo visto de fora) - 4



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Agora o PCP. Do congresso realizado em Almada sai um reforçado Jerónimo de Sousa, cujo curto discurso final reafirma a vontade de aprofundar aquelas que são as bases teóricas que suportam o trabalho político do PCP. Um dos lugares comuns do jornalismo português é diminuir a importância destes congressos com a alegação da ausência de novidades, como se o que é novo fosse em si mesmo um valor absoluto. Recorro, por isso, à expressão latina “Non nova, sed nove”, para sublinhar algo de muito importante ocorrido durante o encontro dos comunistas que, não sendo uma novidade absoluta, é novo pelo peso e pela acutilância com que as questões foram colocadas: a renegociação da dívida e a presença no Euro. Dois temas abordados em profundidade por Carlos Carvalhas, anterior secretário-geral do PCP. Convém, como o faz a Helena Pereira, recordar que o PCP anda há anos e anos a alertar para os riscos da moeda única. Carvalhas foi muito claro: Portugal deve começar a preparar a saída do euro como forma de recuperar a soberania. Até porque, sublinhou, nos últimos anos pagou 82 mil milhões de euros de juros, o que dá 8 mil milhões por ano. Só esta verba seria bastante, dizem os comunistas, para pagar todo o Serviço Nacional de Saúde. Não se tenha a ilusão, afirmou Carvalhas, “que a positiva política de combate às medidas de austeridade e uma política expansionista só por si resolve os problemas, se não se encarar de frente a questão da dívida e os desequilíbrios colocados pelo Euro. As ilusões pagam-se caras e não será grande consolo virem depois dizer que o PCP tinha razão”. São palavras com destinatário inequívoco: o PS, que continua a manifestar-se indisponível para travar esta batalha na Europa.

Porque é que tudo isto, sem ser novo, é particularmente importante neste momento? É preciso recuar uns dias até a entrevista de Jerónimo de Sousa ao Público quando, ao falar do entendimento com o PS, porque era fundamental afastar PSD e CDS do poder, afirma: “(...) com tanta vida desgraçada, as pessoas perderam o emprego, perderam a sua própria casa, perderam tudo – isso é força de combate. O desespero, a falta de visão de saída da situação das suas vidas e da situação do país não levavam á mobilização, levavam à desmobilização”. E agora, de novo um salto para o Congresso, quando João Oliveira, líder da bancada parlamentar, afirma que o PCP não está comprometido com o Governo, nem está condicionado por qualquer acordo de incidência parlamentar, nem é força de suporte ao Governo. Ou seja, pode ter havido uma pausa necessária na luta, mas o combate é o de sempre, como seguramente se verá na discussão do Orçamento para 2018, durante a qual todas estas diferenças e contradições se avolumarão. Será uma preocupação para o Governo do PS? Veremos, até porque tudo dependerá da correlação de forças então existente. Já agora, e mesmo depois do Congresso, continua a valer a pena dar uma olhada ao 2:59 apresentado por Marim Silva, com Guião da Rosa Pedroso Lima. Começa com uma constatação: “ao longo dos anos as notícias sobre a morte dos comunistas têm-se revelado manifestamente exageradas”. Perceba porquê.
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Expresso-curto
Valdemar Cruz
E la nave va (?)

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