sábado, junho 25, 2016

Reflexões lentas

Foi afirmado vezes sem conta (e sem conto) que depois de ontem nada ficaria como antes. Mas o facto é que, hoje, por esta parte do mundo temos a funda certeza que hoje – 25 de Junho – nada está como estava a 23 de Junho por ontem ter sido 24 de Junho. E há muitas maneiras de ter consciência desse facto. Que é, de resto, marca indelével de todos os dias vividos, embora só de alguns se tenha consciência.
Mas há. como ia escrevendo…, muitas maneiras de tomar consciência desse facto, e até há a de não ter consciência dele.
Houve quem se teria apressado (precipitado?) a procurar fazer como se nada de relevante, de verdadeiramente transformador (por pouco que fosse...), tivesse acontecido, ou procurado que os interesses dominantes não tivessem sido beliscados ou que, como é de natureza destes, se esteja a catar a forma de reforçar esses dominantes interesses. E há quem debata, especule, perore, teorize, a partir desse lado das coisas. Da lua. Da luta. Da vida.
No entanto, se há esse lado, também outro lado há. Que procura entender e intervir. Que afirma o que se que se quer ignorado ou registado tão-só como sendo o mesmo de sempre... quando é o que sempre busca o novo e o transformador, para que se estima conhecer a dinâmica da História nas suas linhas de força e que sempre prevalecem. Sem prazo ou lugar pré-determinados.


No incessante esforço de não ver só um/o lado das coisas que nos é “oferecido” à saciedade, de a ele juntar – sempre e corrigindo sua menosprezada importância – o que é visto do outro lado, encontrei um pormenor que me pareceu significativo. E que me estava a passar desapercebido no turbilhão dos dias que nos são contemporâneos.
Encerrou-se, a 23 de Junho, o ano lectivo da Universidade Sénior de Ourém. Com missa, almoço e apresentação, em jeito de espectáculo, dos trabalhos de um ano riquíssimo para quem o viveu com a ajuda da associação criada para isso, para nos ajudar a viver.
Não tendo, obviamente, participado em todo o programa, pela minha parte, com a responsabilidade de animar o convívio em duas matérias, quase só preparei, para esse balanço, o prestar contas e aproveitar o que foi a empolgante tarefa colectiva de editar um livro, fruto de uma oficina de leitura e escrita. De cidadania, a outra matéria, falei/falámos quase só num intervalo da despedida do ano passado e já vontade de voltar. 
Lembro que referi ser aquele um dia de coisas importantes para a nossa cidadania, dia de referendo no Reino Unido a que havia que estar atentos e prestei contas de um pequeno trabalho que realizáramos nas últimas semanas, à maneira de teste final. Enumerei uma lista (aberta) com 8 assuntos então muito actuais, e pedi aos companheiros-alunos que escolhessem 5 deles e os colocassem por ordem de interesse… cidadão; depois de um trabalho sobre as duas dezenas de respostas, com critérios de ponderação evidentemente com elevado grau de subjectividade, ordenei a importância dos temas. Nesse ordenamento teve claro destaque a questão das ameaças de sanções da U.E. a Portugal (27%), seguido de um segundo grupo (com 15% e 14%) de três questões ou factos – atentado numa boite de homossexuais, BRexit eleições nos Estados Unidos –, um terceiro grupo (com 9% e 8%) com comemorações do 10 de JunhoEuro de futebol e eleições em Espanha, por último (com apenas 6%) a vinda do ministro da saúde a Ourém.
Os dois extremos merecem-me brevíssimo comentário:
·        Primeiro, a pouca importância atribuída a algo que aconteceu relativo à situação de um problema candente de direitos de cidadania em Ourém, como é o caso da saúde pública;
·        Depois, a sensibilidade revelada por uma questão de soberania nacional, agredida por ameaças a que todas as forças políticas reagiram, de forma não síncrona mas – parece-me, e estes resultados confirmam – reflectindo um sentimento generalizado de repúdio por pressentida prepotência e ataque à independência nacional.

Não há dúvida (ou poucas haverá…): isto anda tudo ligado

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