sábado, novembro 14, 2015

NA CURVA

Entre os muitos biscates por que me perco e encontro (e nenhum tacho, nem um...) está uma recente colaboração semanal com um jornal digital (mediotejo.net). Muito me agrada fazê-lo. Pelo convite, pela receptividade aos textos que envio, pela qualidade das ilustrações escolhida pela redacção do jornal. 
Segue amostra, graficamente adaptada:

“NA CURVA” 

 
Estamos perante uma curva (ou duas, ou mais) à escolha. De quem?
Antes de a darmos, estamos parados numa espécie de encruzilhada. Numa pausa dependente de uma vontade, numa pausa voluntária, desnecessária, prejudicial, perigosa.
Um de nós, mais dado à literatura, à poesia, iria pedir ajuda ao Drummond de Andrade e servir-se-ia da ladaínha “E agora, José?”. Mudaria umas coisas, adaptaria, a começar pela apóstrofe e perguntaria

“E agora, Aníbal?”

Sua palavra agreste,
seus momentos de febre,
sua fúria recalcada,
sua reforma de ouro e queixa,
seus juros e suas juras
sua biblioteca sem livros,
sua gula de pão de ló,
seu fato malfeito,
sua coerente incoerência,
seu ódio, sim! seu ódio
– e agora?

Com a chave na mão,
não quer abrir a porta,
a que existe,
que outras não há;
quer morrer no mar,
mas o mar você secou;
quer, talvez…, elefantes,
elefantes são de outro Aníbal;
quer continuar em Belém,
mas só há Boliqueime,
Belém não há mais.
Aníbal, e agora?

Um outro de nós (ou o mesmo), mais voltado para as coisas da política – que são as de todos nós –, perguntaria
(a José, a Aníbal, a Pedro, a Paulo,
a António, a Catarina, a Jerónimo, a Heloísa,
a ti, a mim, a nós)

“Que fazer?”

E pediria, a todos, que respondêssemos à pergunta e não ao nome de quem a fez e quando a fez e como e a quem a fez: 
que fazer? Só!
Cá por mim, não tenho dúvidas. Eu, que sempre tenho dúvidas e tantas vezes me enganei e engano, desta vez não hesitaria. Faria a curva e continuaria o caminho, que só pode ser de luta.
Por futuro menos cifrão e mercado, mais humano. Tenha as curvas que tiver que ter.

2 comentários:

Justine disse...

Excelente texto!

José Rodrigues disse...

Boa malha.O mediotejo deve ser uma ilha no mar dos jornais regionais que por aí fazem do anticomunismo o seu ideário.

Abraço