terça-feira, maio 12, 2015

Reflexões lentas a partir das eleições no Reino Unido - o ludíbrio da democracia representativa

Algo aqui se comentou sobre as recentes eleições no Reino Unido, antes da sua realização. Com base nas sondagens, esperavam-se resultados perturbadores da já conturbada situação na União Europeia.
Depois das eleições realizadas, e dos seus resultados, parece terem-se solto uns suspiros de alívio, e os comentadores encartados deixaram (ao que avalio) duas ideias marcantes: i) que a vitória dos "conservadores" (ou do que estava...) tinha sido "esmagadora"; ii) que as sondagens tinham falhado rotundamente e deveriam ser, elas também, penalizadas. Em pé de página, e como fait-divers, ficava também a ideia de que o resultado do partido "dos escoceses" fora enorme... na Escócia, retirando o tapete aos "trabalhistas", e que o partido nacionalista anti-União Europeia continuava residual, com 1 deputado isolado.
Nada disto era errado, mas era muito pouco e bastante escamoteador de outras ilações e consequências a tirar dos resultados.
Na verdade, houve vitória dos "conservadores", ao conseguir aumentar a sua bancada de 25 deputados. No entanto, isso não pode esconder que os seus parceiros de coligação, com quem partilhavam a maioria anterior, os "liberais", tiveram uma queda impressionante, apenas elegendo 8 deputados, perdendo 48.
É também verdade que as sondagens erraram rotundamente quanto à composição do novo parlamento mas o facto é que as sondagens não erraram tanto relativamente à diferença de votos entre "conservadores" e "trabalhistas"  (36,9% e 30,4%), que se confrontam na clivagem entre eleitos (50,9% e 35,7%)
No entanto, o que verdadeiramente está em causa é este sistema eleitoral uninominal maioritário a uma volta, engendrado "à medida" de um bi-partidarismo, sistema que é escandalosamente desproporcional. O tal partido anti-União Europeia (UKIP, de direita), terceiro em votação com 13%, apenas elegeu 1 deputado, e o partido "dos escoceses, com 4,7% dos votantes, elegeu 56!  
Procurando um confronto que torne tudo mais claro, é como se se transformasse o nosso sistema eleitoral (como alguns desejam), para o que pode dar o que aconteceria se os circulos uninominais fossem os actuais municípios, do que resultaria, face às eleições autárquicas de 2013 transpostas para legislativas de 2011:
Como se pode ver, apesar das coligações pré-eleitorais (e pós-eleitorais), o PS teria mais 12 pontos percentuais de percentagem de mandatos que a sua representatividade eleitoral, ainda assim sem alcançar maioria absoluta, e a coligação PSD-CDS/PP pós-eleitoral, com mais 3,4 pp acima da representatividade de votantes ficaria muito mais longe de a alcançar; o BE desapareceria como partido com representação e 14,3% dos eleitores votantes teriam ficado sem representação, o que se poderia atenuar pelo aparecimento de "grupo de cidadãos", com 13 deputados (e 4,2% dos mandatos para 6,9% dos votantes), embora se saiba como grande parte desses casos foram partidos "escondidos"! Curioso (e significativo!) é o caso da CDU em que haveria, praticamente, igualdade de votos expressos por eleitores e  percentagem de mandatos.

Mas volte-se (e depressa) às eleições (reais) do Reino Unido para observar que, não obstante se comentar que tudo teria ficado mais ou menos na mesma, o ludíbrio da democracia representativa não consegue escamotear a vontade dos cidadãos e há duas previsões pós-eleitorais que não deverão falhar como se diz terem falhado as sondagens: i) mais que uma previsão parece certo que vai haver uma antecipação e, em vez do adiamento para 2017 será em 2016 que o Reino Unido fará um referendo sobre a sua integração na União Europeia; ii) com o seu peso de 56 deputados. e a acção política participativa local, com a secretária-geral fora da representação parlamentar para que tanto contribuiu, não será arriscado prever novidades próximas quanto ao processo de independência da Escócia, que não se encerrara com o resultado do recente referendo, 

Nunca nada fica como dantes!

3 comentários:

Olinda disse...

Muito esclarecedor.Realmente,ê um sistema eleitoral muito pouco democrâtico!

Bjo

Anónimo disse...

É isto que nos querem aplicar os de cá...Os filo-fascistas ? Os cripto-fascistas ? E só não o fizeram porque não fariam desaparecer o PCP ! Como demonstraste no quadro supra. è assim, Sérgio, aqui em Lisboa, na Frente Leste ...

Um abraço

João Pedro

GR disse...

No domingo já começo a dar notícias.

Mil Bjs,

GR