sábado, fevereiro 14, 2015

Reflexões lentas - A PROCURAR CONHECER O TEMPO (EM) QUE SE VIVE

No léxico “europês” há palavras, frases e expressões que, pelo seu uso e/ou pelo seu desuso, ajudam a entender o que se passa - e se procura fazer passar - melhor que muitos textos de maior ou menor extensão.
Na actual agitação das águas “europeias” (isto é, da União Europeia) que, não estagnadas, têm vindo a apodrecer, apareceu por aqui gente nova a comentar… embora não sejam novidade. Mas o facto é que (Grécia gratias) os meios de comunicação saíram um pouco das “velhas receitas” (e dos habituais “cozinheiros”) e recorreram a comentadores que, não sendo estreias, têm sido relativamente menos utilizados.
O facto é que “syrisas”, “podemos” e outros cidadãos de afirmada e vangloriada apartidarite (“independentes”… embora não se saiba muito bem que seja isso) têm alterado as composições dos painéis, e feito ouvir coisas raras. E muitas delas muito certeiras.
Então na área da economia, ainda que sem rasgos daqueles de rasgar mesmo, diminuiu – por momentos… – a dominância dos discursos e opiniões que, a vários tons e sons, parecem ter palas nos olhos e muros nas palavras pelo que só vêem e só dizem monetarismo, dívida e mercado.
É claro que tal "ar fresco" acontece com as cautelas (e os caldos de galinha) que a prudência aconselha... 
Venho afirmá-lo porque as posições que com mais clareza poderiam apontar para verdadeiras alternativas políticas continuam a ter aposta uma surdina que as torna pouco acessíveis, e até impede que se exercitem e amelhorem na sua fonte privilegiada, no debate que as não exclua.
Vêm estas reflexões a propósito do verdadeiro muro de silêncio  em que esbarrou a proposta de realização de uma Conferência Inter-Governamental (CIG) que o PCP levou, pelo seu Grupo Parlamentar, à Assembleia da República.  Muro de silêncio que beneficiou da reacção triste e apagadora do presidente do GP do PS, à maneira de estucador e atrás de uma questão formal… segundo a qual os deputados na AdaR não teriam de se meter no que é governamental!
Mas… Mas, queiram-no ou não quem pretende ter os cordelinhos do que se mostra ao povinho, a proposta fará o seu caminho e será discutida na AdaR mesmo que se saiba já quem votará contra (hoje e amanhã, após eleições... se não for obrigado a mudar de posição), no rasto do que resulta deste mexer nas águas turvas e revoltas, e em que a palavra negociação arrasta conferências internacionais, para além dos conciliábulos conselheirais (de Estado, de EuroGrupo, e “europeus”).
E importa lembrar que, antes de Maastrich e das CIG que Maastrich trouxe consigo - uma para a União Económica e Monetária e outra para a União Política -, aproveitando um espaço considerado livre de constrangimentos e em globalização (capitalista financeira-federalista), era em conferência inter-governamentais que se discutiam e preparavam os passos a dar na integração europeia. Até elas, essas CIG, serem de cariz suicida, isto é, reúnirem-se enquanto soberanias nacionais para acabarem com as soberanias nacionais.
Por isso mesmo se releva o enorme significado da recuperação da designação Conferências Inter-Governamentais porque ela reafirma propostas que vêm de 2011 e que, como diz o léxico “europês” oficial, «A expressão “Conferência Intergovernamental” (CIG) designa um processo de negociação entre os governos dos Estados-Membros com o objectivo de alterar os Tratados.»

Vai mesmo ter de se falar disto. No local apropriado: na Assembleia da República. Há que ouvir o que vai ser dito, a partir desta exigência de discutir caminhos feitos, por muito avançados que eles pareçam, e porque se torna evidente que têm provocado desastres. Nos povos e que os povos podem impedir os que se aproximam. Perigosamente.   

1 comentário:

Justine disse...

Lutando contra muros de silêncio e indiferença...