terça-feira, março 18, 2014

Indignação e pára-raios

Como diria um velho professor de contabilidade (quando eu era jovem...) "campeia infrene a maior indignação" (ele dizia indisciplina...). 
Não há quem não se indigne com as prescrições relativamente a actos e práticas relativamente a crimes económicos, puníveis pela lei. E tantos são os indignados que alguns deles o estão por arrastamento, por não poderem deixar de estar ao ser tão gritante o motivo da indignação.
É lá possível que quem tem dinheiro para pagar milhares a advogados bons (!) consiga adiamentos e toda a espécie de dilações,  de falsos divórcios e outras manigâncias, de mais isto e mais aquilo? Pode lá aceitar-se que a justiça perca o prazo de validade, e os que criminosos fiquem ainda com umas centenas de milhares - que até são milhões...-, em resultado das falcatruas em que se meteram, ou seja, que meteram ao bolso.
Este será o sentir comum. É a indignação à flor da pele, e aumentada por nos quererem fazer passar por pequenos criminosos económicos que gastámos acima das nossas possibilidades, que tivemos saúde demasiada, educação a baixo custo, transportes públicos a darem prejuízo, e etc., e etc., e tenhamos, agora, que o pagar com língua de palmo e os bofes na boca.

Pois acho que estamos errados quando insistimos em dar nomes ao que nos indigna (e faz alguns mimarem indignação).
É verdade que faltam por aí umas carradas de vergonha, mas lembro um filme da minha juventude que tinha o título traficado em português de "a esperança nunca morre" quando nunca esqueci o título original: "the singer, not the song".
Pois agora é o contrário, é "the song, not the singer". Quais Oliveira Costa, Duarte Lima, Dias Loureiro, Jardim Gonçalves, aquele banqueiro que disse que aguentávamos, sim senhor (não é crime punível dizer isto enquanto se arrecadam milhões e se coloca a família bem colocadinha em assessorias do aparelho do Estado?) e tantos outros "tenores", que, em comparação com as massas que somos até poucos são!
O que importa combater é a "canção", e impedir que os "cantores" nos distraiam e sirvam de pára-raios enquanto a cantiga (e a trovoada) continua.
Os que abusaram, os que se excederam, os que atraem a justa indignação, até podem, perversamente, ser muito úteis para que nos distraiamos do sistema corrupto e desumano que cria os corvos (e eles te comerão os olhos..), e que funciona como se os abusadores é que tivessem a culpa de tudo, e o que nos indigna seja que não tenham punição pelos desmandos. E por aí nos fiquemos.

4 comentários:

Olinda disse...

A cancao sô faz sentido,cantada pelos cantores.Os cantores ê que contribuem para o exito das cancoes.Felizmente,que hâ outra cancao e outros cantores.

Um abraco

Anónimo disse...

A Lei é feita por eles e para eles.
São eles que têm as espingardas.
Monteiro

Antuã disse...


Eles comem tudo e não deixam nada.

Graciete Rietsch disse...

Enquanto as pessoas se ficam pela indignação, bem eles vão progredindo progridem impunemente.É preciso passar da revolta à ação pois o tempo do fascismo aí está cavalgando sobre o Mundo.

Um beijo.