domingo, novembro 17, 2013

Para este domingo...

...  não porque, neste domingo, o meu estado de espírito se identifique com o da Barbara (já aconteceu...). Mas porque gosto de ouvir a Barbara em qualquer estado de espírito, de a ler e de "cucar" os seus trechos/poemas. É a minha "costela" cultural francófona (nos anos 50-60 que língua líamos, em que língua aprendíamos o que em português nos estava vedado pelo fascismo?...),




LA SOLITUDE

Barbara

Encontrei-a à minha porta,
num fim de tarde,
ao regressar a casa. 
Por todo o lado, ela me persegue. 
Ela volta sempre,
ela está sempre presente, 
a choramingona dos amores mortos. 
Segue-me, passo a passo. 
A cadela, o diabo que a carregue! 
Ela volta sempre,
ela está sempre presente.

Com a sua carinha piedosa,
com as suas enormes olheiras,
ela traz o nosso coração à trela, 
ela faz o nosso coração chorar,
ela põe as nossas mãos em oração
nas longas noites desoladas.
A cadela! Consegue mesmo trazer-nos
o inverno em pleno verão.

Com o teu triste vestido amarrotado,
com o teu cabelo desgrenhado,
tu és a face do desespero,
não és bonita de ver.
Vai-te!, leva contigo
a tua triste cara de tédio.
Não tenho o prazer da infelicidade.
Vai-te embora!, vai ver se eu estou lá longe.

Eu ainda quero dar às ancas,
quero ainda embebedar-me de primavera, 
quero ainda oferecer-me noites sem dormir,
com o coração a bater, com o coração a galopar.
Antes de chegar a hora final,
até ao meu último suspiro,
ainda quero dizer “amo-te”
e querer morrer de amor.

Ela disse
“Abre a tua porta.
Segui-te a par e passo,
sei que o teu amor está morto.
Voltei, aqui estou eu.
Disseram-te belos poemas,
esses gentis cavalheiros, essas lindas criaturas,
os teus falsos Rimbaud, os teus falsos Verlaine.
Pois bem, acabou tudo.
Tudo era demais”.

Desde então,
ela provoca-me noites em branco.
Ela pendurou-se ao meu pescoço,
ela enrolou-se nas minhas pernas.
Em qualquer lado, ela está comigo,
ela persegue-me, passo a passo.
Ela espera-me do lado de fora da minha porta.
Ela voltou, ela está ali.

 
a solidão… a solidão!

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Triste, mas lindo!!!

Um beijo.