quinta-feira, abril 25, 2013

Bom aniversário!


Tenho "guardado" este post que, em 2010, me surpreendeu porque me apanhou desprevenido e muito agradecido por tannto me ter agradado a surpresa:

Abril 24 2010


"Não, o 25 de Abril de 1974 não me apanhou como à grande maioria dos portugueses. Não foi a rádio surpreendentemente transformada em Rádio Liberdade, depois de ter sido Grândola o pontapé de saída; não foi o telefonema incrédulo de um amigo recebido reticentemente e terminado com risos ou lágrimas ou abraços que o telefone pode trocar; não foi o tropeçar, a caminho do trabalho, com a nova a correr de mão em mão, com gente a sair para as ruas diferentes, transmutadas, a começarem o parto de um país novo tendo a gravidez sido escondida ou disfarçada.
Na manhã do 25 de Abril de 1974 acordei na cela 44 de Caxias-Norte. Comecei nesse acordar mais um dia de prisão, naquela fase em que parece que nos puseram de salmoura, preparando-nos para interrogatórios, torturas e duras provas.
Como nas poucas manhãs anteriores, mas cada vez com maior economia de tempo e esforço, reencontrei-me e localizei-me. Sentia-me bem instalado, naquela cela com casa de banho acopulada, com duche e tudo, uma mesa de pedra, um armário, uma bela vista sobre o Jamor e uma réstia de Tejo. Que diferença relativamente a 1963 e 1964! Todas as manhãs me recordava dos "curros" do Aljube e das "casamatas" que, ali perto, deviam ser um amontoado de pedras húmidas, ratos e aranhas. E recordava também como. em Novembro de 1963 carregara os colchões dessas "casamatas" até estas celas, assim precariamente inauguradas, para depois nos transferirem rapidamente para o reduto Sul."

Sérgio Ribeiro "... porque vivi e quero contar"

publicado por divagares às 23:36
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Sabe-me  bem passar por aqui de vez em quando. Despido (creio eu) de sequelas egocentricas. Lembrando, ao vivo,vivido, o dia em que nasci "segunda vez". E, comigo, o povo que sou. 

E mais o lembro por parecer tão esquecido estar, ou mal contado. Involuntária ou deliberadamente. Sim, fui dos últimos presos do fascismo (não do Estado Novo, ou do antigo regime, ou docorporativismo, ou o como o queiram crismar). É que o fui e... porque o vivi, o quis contar, Aliás, como o escrevi também em 50 anos de economia e militância:

«(...) O 25 de Abril foi o meu “segundo nascimento”. Já muitas vezes o disse e muitas vezes o repetirei.
Nascera, pela primeira vez…, em Dezembro de 1935, já com a Constituição e o Estatuto do Trabalho Nacional fascistas no berço, comecei a crescer no ano da morte de Ricardo Reis[1], o ano da guerra civil de Espanha, da revolta dos marinheiros, da abertura do Tarrafal, andei na escola primária durante a guerra, fiz-me adulto na descoberta do que era o fascismo e a vestir a pele da luta contra a opressão, a exploração, a guerra colonial.
Na luta, percorri o caminho para o 25 de Abril libertador, passo a passo no “rumo à vitória”, caindo aqui, logo me levantando. Sempre me sabendo acompanhado. Um no meio de muitos. (...)»
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[1]  - esse admirável livro de José Saramago.
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E, hoje, tenho a alegria de festejar o 39º aniversário desse "segundo nascimento". Em luta, ao lado de muitos, dos de sempre, em colectivo!   

7 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Lindo texto de um herói sempre alinhado com o heróico coletivo.
Não foram só os militares que fizeram o 25 de Abril. Devemos-lhes muito. Mas tiveram sempre ao seu lado "muitos homens na prisão".

Um grande abraço.

trepadeira disse...

São homens assim que transportam a esperança da humanidade.
A linha é a da frente,a batalha sempre a mesma.

Forte abraço,

mário

Jose Rodrigues disse...

O burro do Cavaco despiu a albarda e tornou-se o mais recente deputado da maioria/merda cds/psd.Até dá vómitos ouvir a besta!

Aluta continua

Abraço

cid simoes disse...

E de cabeça levantada continuarmos a caminhada!

Antuã disse...


Passar a noite de 24 de Abril em Estarreja sempre é melhor que na cadeia. Até sempre.

GR disse...


“E mais o lembro por parecer tão esquecido estar, ou mal contado. Involuntária ou deliberadamente.”

Durante vários meses procurei no youtube vídeos, onde teimosamente tentei encontrar o camarada Sérgio Ribeiro o militante Resistente, saindo da prisão fascista de Caxias.
Consegui! Este é um deles (http://www.youtube.com/watch?v=okiHjcc32rs&feature=email).

Esquecido? Nunca!
Mal contado? não há necessidade. Temos livros, net, sessões públicas onde nos dão como referência o teu exemplo de Militante, Lutador, Resistente.
Esquecido? Nunca!
Ainda esta semana (24 Abril) podemos constatar, num dos muitos jantares a que foste convidado (lembrado) para comemorar o 25 de Abril, o silêncio feito, aquando da tua intervenção. Estava a falar o Resistente, o militante comunista que saiu da prisão, em Abril 1974 com a Revolução e o silêncio fez-se, para te ouvir. Quando partiste para mais outra (das muitas comemorações a Abril), os amigos e camaradas de Estarreja estavam satisfeitos, orgulhosos por terem tido a oportunidade de conviver com o (seu) camarada Sérgio Ribeiro. Eu, como eles, como muitos, tentamos seguir o teu exemplo, és para nós “um exemplo” a seguir.
Sim, há mais bons exemplos e muitos. Mas é de ti que agora falo com orgulho e ser uma privilegiada por te conhecer e nunca me esquecer.

Obrigada camarada por teres lutado pela nossa Liberdade.

GR

Luís Neves disse...

Hoje foi dia 25 de Abril, só não o viveu quem não esteve para aí virado.
Um cravo