segunda-feira, junho 20, 2011

Sobre Fernando Lopes e/em Ourém – três breves notas

1.(biográfica) – Fernando Lopes nasceu no concelho de Alvaiázere, mas em Ourém viveu o seu tempo “de ir à escola”, de que há um documento muito interessante (“muda aos cinco, acaba aos dez”, por agora apenas literário e de jornal), que é uma crónica de um jogo de futebol entre os miúdos da escola no largo fronteiro à então cadeia e GNR, a “feira do mês”, divididos em duas equipas, uma, dos sportinguistas, os “verdes”, outra dos benfiquistas, os “encarnados… porque “vermelhos” estava excluído do léxico pelo professor Roque. E em Ourém viveu o seu tempo de “descobrir o cinema”, de que guarda a funda memória de ter sido o tempo de a si se ter descoberto como aquilo que queria ser e que é, cineasta.
2. (Belarmino) – Para quem tem a idade de Fernando Lopes, ou por lá perto, e andara pelas lutas académicas e continuava pela luta contra o fascismo, onde os cineclubes eram locais de associação e descobertas, o filme Belarmino (de 1964) foi um acontecimento muito marcante; foi cinema português, feito por um jovem – Fernando Lopes estava ainda longe dos 30 anos – com muito qualidade e novidade formal. Dizer dele que foi uma (ou a) marca cinematográfica do neo-realismo, que é um documento histórico relevante na cultura portuguesa seria motivo de conversa e debate, se o que aqui se deixa escrito merecesse ser sequer lido.
3. (Nós por cá todos bem) – O tempo que viveu em Ourém, deixou marcas muito impressivas (e em celuloide…) em Fernando Lopes. O filme Nós por cá todos bem (da segunda metade dos anos 70) é, transcrita para linguagem cinematográfica, uma carta de uma mãe para um filho. A aldeia onde a carta é escrita é uma aldeia de ficção, mas é uma aldeia de aqui, a mãe que a escreve não é a mãe de Fernando Lopes mas a carta é carta da mãe de Fernando Lopes. É assim que me lembro do filme. Quando o vi e me “tocou” ao tempo da sua estreia, quando, com outros – Luis Nuno Rito, Zé Quim Simões, Zé Manel Alho e Paulo Fonseca – procurámos trazer alguma animação cultural a Ourém, e começámos por uma sessão, na “sede da Banda”, com a sua exibição, com a presença comovente da mãe de Fernando Lopes, de colegas seus de escola primária, e do realizador. E uma sala cheia de gente, de afectos e amizades, de emoção.
Nota extra – A vinda e a homenagem a Fernando Lopes, neste dia 20 de Junho de 2011, a exibição de “O Delfim” (de 2002), filmado em grande parte na Quinta da Alcaidaria, são iniciativas que mereceriam acordo e apoio.
E mais não digo. Até porque há, sempre, muito que fica por dizer... 

4 comentários:

Carlos Gomes disse...

Por falar em cinema, penso que a novela "Olho de vidro" de Camilo Castelo Branco dava um bom argumento para um filme. E tem tudo a ver com Ourém... ver em http://auren.blogs.sapo.pt/38524.html

cid simoes disse...

É tanto, tanto o que fica por dizer!... Ao olhar os cromos da nova governança esgotamos o vocabulário.

Justine disse...

O FL merece todas as homenagens, como grande cineasta que é...

Graciete Rietsch disse...

Mais uma justa homenagem!!!!
Não conheço o filme "Nós por cá todos bem", a não ser de nome, mas pode ser que o prof de cinema da UPP o tenha e o passe ou mo empreste.

Um beijo.