quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Notas para uma leitura de actualização - 3

Notas para uma releitura – de S. Paulo a Paris

Estas notas foram traduzidas para terminarem a intervenção que fiz na apresentação do livro:
.
3.- (…) Por tudo isso, penso que no marxismo-leninismo temos condições para melhor compreender a interdependência assimétrica, a importância crescente das periferias.
Ora, esta interdependência centro-periferias começou por ter a expressão metrópoles-colónias e, nesta etapa do capitalismo, toma outras… que não são muito diferentes.
Como na União Europeia, onde o brutal falhanço do simulacro de objectivo da coesão económica e social veio demonstrar a sua incompatibilidade com o funcionamento do capitalismo. A Irlanda do primeiro alargamento, a Grécia do segundo, Portugal e a Espanha do terceiro, foram Estados-membros integrados na (i)lógica capitalista de transferência de fundos para compensar as consequências inevitáveis do mercado único capitalista, com as suas quatro liberdades, de que apenas uma é efectiva (e libertina!), a do capital.
Mas… quais fundos? E para fazerem o quê?, e ao serviço de quem? E como, com que dimensão, impossível de ultrapassar a contradição de se proclamar uma “governança” imperial-federalista com um minúsculo orçamento chamado comunitário e um controlo inaceitável dos orçamentos e das soberanias nacionais, algumas com muitos séculos de história e cultura.
Hoje, vêem-se os resultados e as ameaças são ainda piores! Portugal, talvez o melhor exemplo da periferia do centro, o país com a maior Zona Económica Exclusiva desta macro-estrutura “às apalpadelas”, e da sua divisão internacional e dita comunitária do trabalho, importa o peixe que os portugueses comem e, para a “dívida soberana” de que os portugueses são acusados em apelo, contribui o peixe que somos obrigados a importar dos países que pescam nas águas portuguesas, tendo sido transferido fundos para que tenhamos abatido barcos, para destruir a nossa frota de pesca.
Quantos outros exemplos?
.
Cada vez mais, é necessário aprender com as situações e as lutas nas periferias. Desde a dos “paises emergentes” que, com o seu crescimento, não aceitam ser “almofadas” para os países em alternâncias e fricções metropolitanas, às massas dos países que lutaram pelas suas independências políticas e lutam, e continuarão a lutar, por independências económicas e financeiras, contra as manobras… dos chamados “mercados”. Por todo o lado e todos os dias não faltam sinais, e em regiões-chave do mundo.
Hoje, o Egipto… e amanhã ?
Previsões? Cremos – eu creio ! – que é preciso aprender, aprender sempre (!) e, como Marx escreveu tantas vezes, ceteris paribus, quer dizer, aprofundar o conhecimento das situações concretas, detectar as dinâmicas e afirmar que, se todas as outras condições se mantiverem, pode dizer-se que… assim se chegará ao socialismo.
A tomada de consciência das massas e a mobilização para a luta dos movimentos organizados dos trabalhadores, será o motor das mudanças históricas, no sentido da História, não apenas nas vertentes monetárias, financeiras, económicas, mas também sociais, culturais, de civilização.


já no Zambujal,
amanhã retomam-se rotinas
(o que é isso...)

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Ralmente o desprezo pela nossa ZEE, é um exemplo gritante do "bluff" que foi a nossa entrada na UE. Mas lembro-me de outros, p.e. a baixa obrigatória da produção de tomates e leite. Pelo menos nesses casos passamos de produtores a importadores.
Bem avisados fomos.

Um beijo.