quinta-feira, outubro 14, 2010

Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 27 (Shakespeare)

No meio de um texto de economia, aparece-me um soneto de Shakespeare (o 66 e juro que não fui eu que o coloquei lá.
Claro que parei a leitura económica, avaliei a tradução, não me agradou muito, achei que, a partir da ideia e de algumas formulações daquele poema, se poderia fazer muito melhor (sou mesmo pretenciosos...) e vai daí "cuquei" (ainda espreitei o Vasco Graça Moura, mas já estava embalado na minha "cuquice"), a começar por transformar em soneto o que tinha apenas 11 versos...



"à maneira" de

Shakespeare
(soneto 66)
.
Se fatigado de tudo, tudo me leva a implorar a morte,
se farto estou de ver a inocência mendigar,
de ver o que é vulgar em luxo se esparramar,
de como é atraiçoada a mais pura lealdade.

Se farto de ver como é violentamente violada a virgindade,
de ver como são partidas e repartidas as honrarias,
de como os valores são mutilados pelas brutas tiranias
de como a bondade da verdade é pela mentira difamada,

Se farto de ver a inspiração e arte ser amordaçada,
de ver arvorada em profeta e sábia a estupidez,
de como o bem-querer é cativo e do mal-fazer servidor.

Se fatigado de ver tudo isto estou, desistiria talvez
mas… apesar de cansado, magoado, ferido, suporto bem a dor
porque cansado de lutar não estou, e continuar a lutar vou!

8 comentários:

Mário disse...

Uma cucagem cheia de força, como quando "a bondade da verdade é pela mentira difamada". Ainda que essa verdade seja sempre a nossa.

Abraço

Anónimo disse...

Para quem faz vassalagem à selecção dos chulos do futebol e considera-os como se fossem o país por excelência (para darem muitas alegrias aos portugueses,como eles dizem) e depois se atreve a adaptar um poema de Shakespeare, o resultado só pode ser um chuto na pobre poesia e na lingua portuguesa.

Sérgio Ribeiro disse...

Mário - obrigado pela avaliação que fizeste sobre a minha "cucagem" (como é que hei-de escrever isto?).

Há por aí outras avaliações, que levaria muito a sério se não correspondessem a um certa infestação.
Tenho de proceder a uma desinfestação deste cantinho para que os meus visitantes não se sintam mal... Ou, usando a delicada terminologia que contra mim é usada, com um pontapé não na bola (de que, ridiculamente, me estão a fazer mais que adepto, fanático...) mas no fundo da coluna vertebral (se a tiverem...)

cid simoes disse...

Um filtro para evitar o mau cheiro dá sempre jeito.

Anónimo disse...

Muito bem, aprovado. Venha a censura!

Quanto à cultura do pontapé na bola, isso foi manifestamente visível no último campeonato do mundo de futebol.

Graciete Rietsch disse...

Parabéns , camarada, pela bela cucagem.
E, quanto aos anónimos, ignora-os, como eles se ignoram a si prórios, pois nem são capazes de se identificar.

Um beijo.

Sérgio Ribeiro disse...

cid simões - talvez tenhas razão, mas eu continuo com as portas abertas, sem qualquer restrição. Só utilizarei métodos drásticos (de "desinfestação") se houver ofensas a visitas minhas, e apenas por causa dessas minhas queridas visitas não serem molestadas. Para mim, estou-me (quase) nas tintas. Chamarem-me revisionista, fedorento, pestilento, fanático da bola... je m'en fiche (mais ou menos).

Graciete - Obrigado, amiga e camarada. Por acaso, o meu sentido de auto-crítica também me diz que esta "cucagem" não saiu mal de todo...

Abreijos

Já que falei em sentido de auto-crítica, o intruso das 08:34 e das 12:21 (deve ser o mesmo) levou-me a ir passar os olhos pelas mais de 70 mensagens que aqui publiquei entre 10 de Junho e 11 de Julho, período em que decorreu o campeonato do mundo (fui ver ao "google"...), e anotei que apenas 2 são dedicados ao tema (mas não só a ele), e errado teria sido se nada tivesse dito sobre o que era o assunto que estava na actualidade e que mais ocupava os portugueses, e... tudo que a nós nos interessa, a mim me interessa.
E, já agora, uma directa: querias que te censurasse?, querias? Por enquanto não terás essa sorte. Não és bem-vindo, mas não te dou essa alegria! Se não apareceres mais, que fique claro que não foi por eu te ter fechado a porta... como estás mesmo a pedir.

Anónimo disse...

Marx afirmou no Séc.XIX que a religião era o ópio do povo, e explicou de forma muito clara a razão de ser desse ópio infestador. Mas agora o futebol que é a sua substituição na esperança e alegria dos desgraçados é o "simbolo" da portugalidade e do amor à Pátria.

Anónimo das 8:34 e das 12:21