sexta-feira, setembro 17, 2010

Um dicionário e uma palavra – 3

Na enumeração e avaliação dos elementos da teoria económica no marxismo, Pierre Vilar, no Dicionário de Romeuf, trata das leis tendenciais. O que pode ter vindo ao enconro de uma recente discussão em que participei a propósito de um livro.
Diz Pierre Vilar que se reprovaram a Marx contradições entre fases da sua análise, mas logo acrescenta que qualquer passagem de um “modelo”, de uma conceptualização (mesmo que nascida no concreto) para o concreto implica dificuldades desse tipo, e recorre a Lenine para o confirmar, citando-o: «a redução do valor – que é social – aos preços – que são individuais – não se dá de forma simples e directa; segue vias complicadas.» (tal como em: pg. 19, Karl Marx, Tomo I de Obras Escolhidas de Lenine, edições avante!).
Ora, como ainda sublinha Pierre Vilar, o racional ao nível do indivíduo contraria (pode contrariar) o racional ao nível social, que tenta vencer, e as leis tendenciais exprimem esses desequilíbrios.
E (cito): «A própria fórmula da “composição orgânica mostra que o seu aumento fará baixar a taxa de lucro “geral” (à escala social). Há, no entanto, forças contrárias a esta lei: aumento da exploração da força de trabalho, baixa do valor do equipamento, superpopulação relativa, comércio externo) [o que mostra que P.V. leu, embora não o cite expressamente, o livro 3º de O Capital]. Pode-se acrescentar, hoje [em 1960!] o apoio do Estado ao capital, e os monopólios: mas inversamente e a favor da lei jogam a acção dos trabalhadores e os seus resultados (menor jornada de trabalho). A resultante “tendencial” é difícil de verificar estatisticamente, os hábitos de contabilidade não permitem distinguir bem o “lucro” no sentido marxista, e ainda menos a sua “taxa geral”. A baixa desta é, aos olhos de Marx, “a expressão específica do modo de produção capitalista para o desenvolvimento progressivo da produtividade social do trabalho” (O Capital, III, Costes, t. X, p. 122). Será isto o mesmo que dizer que a procura do lucro individual mata o capitalismo, em benefício da produtividade social? Dialecticamente, sim. Mas acontecerá isso, harmonicamente?»
Interessantes (e polémicas) perguntas e respostas.

E a mercadoria, como artigo, ou “entrada”, no dicionário? Já lá vamos!

4 comentários:

Anónimo disse...

e os camaradas cubanos que vao despedir um milhao de pessoas? sacanas!

nao merece um comentariozinho seu, nem do avante?

Ricardo disse...

Deixando de parte as provocações do costume daqueles que detorpando notícias(propositadamente ou alimentando a detorpação que outros já o fizeram, sem que procurem o tão propalado dever e direito do contraditório...), quero felicitar-te pela oportunidade deste teu texto.

A questão das leis tendenciais, das tendências, das tendências estatísticas (das estatísticas burguesas) e mais importante, o papel da dialéctica no processo histórico de desenvovimento humano, são detemrinantes para quem pretende assumir a divulgação e o aprofundamento do pensamento económico marxista.

Abraço!

Graciete Rietsch disse...

A esta tua última questão eu penso que não será rigorosa mente assim. Mas faltam-me leitura e conhecimentos para te uma posição bem definida.

Um beijo.

duarte disse...

nunca é de forma pacífica.
abraço do vale.