segunda-feira, maio 03, 2010

A "ajuda" à Grécia

Foi decidida, dizem as notícias.
Foi decidida a "ajuda" da UE à Grécia, a partir de percentagens calculadas com base na participação de cada Estado-membro da zona euro no Banco Central Europeu.
Foi decidida essa "ajuda", como disse o "nosso" ministro, para vir em socorro do euro, que é a "nossa" moeda.
Foram laboriosas negociações, com intervenção activa do FMI, numa cerrada discussão (e - só! - aos mais altos níveis), em que coube à Alemanha-Merkl ter o papel difícil (perante as opiniões públicas, com relevo para a própria), num quadro informativo completamente inquinado pela perspectiva financeira. Procurando apagar, subalternizar, ou tornar meras dependências do défice orçamental, todas as outras. Que as há!
Foi decidida a "ajuda" à Grécia, dizem eles, por volta dos 110 mil milhões de euros (mais euro menos milhão), e cabe-nos 2 mil milhões (mais milhar menos euro) nessa "filantrópica" partilha de "sacrifícios". Apetece perguntar quanto caberá à Grécia quando for decidida a "ajuda" a Portugal.
Tudo isto tem contornos caricatos. Foi (e é) uma negociação de máquina de calcular na mão e olho na televisão... a ver as manifestações do 1º de Maio em Atenas.Por agora, não comento mais.
Deixo, apenas, o gráfico acima, em que o indicador IDH (Indicador do Desenvolvimento Humano) do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), um indicador que pretende corrigir (timidamente mas pretende...) os indicadores estritamente (e estreitamente) económico-financistas, com dados da educação e da saúde, mostra que a Grécia, ou os gregos..., estava mesmo a abusar, se calhar à custa (ou com o custo) de um endividamento para que tinha(m) sido aliciada(os) para se conterem os salários em baixa para que os lucros financeiros se mantivessem em alta desmesurada.
Segundo os últimos IDH, a Grécia já estava a ultrapassar a linha de evolução da média da OCDE, que é o grupo dos países desenvolvidos (é curioso que o gráfico do PNUD não considere o grupo União Europeia, mas sim o conjunto CEE mais CIS, isto é, a Europa alargada e sem fronteiras bem definidas pois, por exemplo, inclui a Turquia, e não autonomiza um grupo-região Estados Unidos, ou Estados Unidos mais Canadá, amalgamado no grupo OCDE).
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Tanta coisa para fazer pensar...

9 comentários:

Graciete Rietsch disse...

E quanto nos vai custar a nós, pobres contribuintes, essa ajuda?

Um beijo.

Anónimo disse...

Não sou capaz de reunir (ou não chegam a mim) as informações essenciais para fazer juízo apurado dessa crise. Seja como for, a ideia de uma "Europa única" custa a vingar quando há Governos e Desgovernos. O gasto público sem controle só "dá certo" quando quem o paga (e sempre o paga!) somos nós. Para dar um (mau) exemplo do que ocorre por aqui, a maior taxa de juros do mundo e a carga de impostos pesam sobre o cidadão brasileiro sem que a contrapartida social responda no mesmo nível. Apesar da fama de "líder mundial", nosso Lula se sustenta numa política assistencialista sem precedentes. Dando, reconheça-se, "pão a quem tem fome e água a quem tem sede", mas "condenando" ou limitando grande parte da população à estagnação do próprio pensar e da atitude genuinamente cidadã. O Brasil vai bem!? De minha parte, estou "pagando a conta" desde os 16 anos de idade!Aposto que pago mais impostos que o Sr. Presidente Lula, por ex. Enquanto for assim, resolvem-se os deficits fiscais e os desgovernos. (Já superamos, hoje, 3 de maio, mais de R$ 400 bilhões em impostos recolhidos no país.)Mas não quero estar por perto quando a bolha estourar. Saudações cariocas!

Maria disse...

Clarinho e de fácil entendimenton este post. Não sei quanto isto nos vai custar nem quanto caberá à Grécia quando tocar a ajudar Portugal.
Mas retenho a posição da África Subsahariana no Indicador de Desenvolvimento Humano....

Um beijo.

joaopft disse...

«Nos meios comerciais e industriais ouvem-se com frequência lamentações contra o "terrorismo" dos bancos. E nada tem de surpreendente que essas lamentações surjam quando os grandes bancos "mandam" da maneira que nos mostra o exemplo seguinte. Em 19 de Novembro de 1901, um dos bancos berlinenses chamados bancos d (o nome dos quatro bancos mais importantes começa pela letra d) dirigiu ao conselho de administração do Sindicato do Cimento da Alemanha do Noroeste e do Centro a seguinte carta: "Segundo a nota que tomaram pública em 18 do corrente no jornal tal, parece que devemos admitir a eventualidade de a assembleia geral do vosso cartel, a celebrar em 30 do corrente, adoptar resoluções susceptíveis de determinarem na vossa empresa modificações que não podemos aceitar. Por isso, lamentamos profundamente ver-nos obrigados a retirar-vos o crédito de que até agora gozavam ... Porém, se a referida assembleia geral não tomar resoluções inaceitáveis para nós, e se nos derem garantias a este respeito para o futuro, estamos dispostos a entabular negociações com vista a abrir um novo crédito."»
[...]
Quem tiver observado durante os últimos anos - diz Jeideis - as mudanças de directores e membros dos conselhos de administração dos grandes bancos, não terá podido deixar de se aperceber de que o poder passa paulatinamente para as mãos dos que pensam que o objectivo necessário, e cada vez mais vital, dos grandes bancos consiste em intervir activamente no desenvolvimento geral da indústria; entre eles e os velhos directores dos bancos surgem, por tal motivo, divergências no campo profissional, e frequentemente no campo pessoal. Trata-se, no fundo, de saber se essa ingerência no processo industrial da produção não prejudica os bancos, na sua qualidade de instituições de crédito, se os princípios firmes e o lucro seguro não são sacrificados a uma actividade que não tem nada de comum com o papel de intermediário para a concessão de créditos, e que coloca os bancos num terreno em que se encontram ainda mais expostos do que antes ao domínio cego da conjuntura industrial. Assim afirmam muitos dos velhos directores, de bancos, enquanto a maioria dos jovens considera a intervenção activa nos problemas da indústria como uma necessidade semelhante à que fez nascer, juntamente com a grande indústria moderna, os grandes bancos e a banca industrial moderna. A única coisa em que as duas partes estão de acordo é em que não existem princípios firmes nem fins concretos para a nova actividade dos grandes bancos.» [1]

Cem anos depois, o sector financeiro acumulou tanto poder, que consegue fazer aos países o tipo de chantagem que por volta de 1900 começou a poder fazer aos grandes grupos industriais e cartéis. A própria líder da "grande" Alemanha é obrigada a capitular, ante a chantagem do capitalismo financeiro. Para os grandes financeiros, o poder hoje está em intervir activamente nos assuntos e políticas dos estados.

[1] "O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo", Lenine, 1915.

svasconcelos disse...

Muito esclarecedor este post e capaz de nos por a pensar... Tomei a liberdade de o partilhar no meu facebook, é muito elucidativo.
bjs

joaopft disse...

A propósito da actual crise de desenvolvimento humano que, com múltiplas crises, de natalidade, da educação e dos cuidados de saúde, irá brevemente pôr em causa a existência de reservas de mão-de-obra indispensáveis ao capitalismo:

"Mas para se poder oprimir uma classe, têm de lhe ser asseguradas condições em que possa pelo menos ir arrastando a sua existência servil. [...] Torna-se [...] evidente que a burguesia é incapaz de continuar a ser por muito mais tempo a classe dominante da sociedade e a impor à sociedade como lei reguladora as condições de vida da sua classe. Ela é incapaz de dominar porque é incapaz de assegurar ao seu escravo a própria existência no seio da escravidão, porque é obrigada a deixá-lo afundar-se numa situação em que tem de ser ela a alimentá-lo, em vez de ser alimentada por ele. A sociedade não pode mais viver sob ela [ou seja, sob a dominação da burguesia], i. é, a vida desta já não é compatível com a sociedade."

Karl Marx, Manifesto do Partido Comunista.

GR disse...

Um post que nos ajuda a reflectir, tal a sua clareza.
Questiono-me, que vai ser de nós?
Sem industria, pescas, agricultura, sem…dinheiro?!!!

Bjs,

GR

samuel disse...

Chegaremos (a tempo) à conclusão de que temos de produzir coisas? Coisas concretas... de comer, vestir, calçar...

Abraço.

Sérgio Ribeiro disse...

Graciete - Pois, mas o que a nós vai custar msis serão bem outras medidas que estão "na calha".
Augusto - Que bom ter-te por aqui. E haveria tanto para conversar... Mas uma conversa (destas) nunca pode ser frutuosa a partir da valorização de situações pessoais e com a informação inquinada que nos dão. Aqui, no Zambujal, talvez pudéssemos (re)começar uma conversa!
Maria - Pois é, Maria. Há pouco quem olhe para baixo dos gráficos, preocupado com as partes de cima...
joaopft - Obrigado pelas citações. Porque não num post num outro blog?
smvasconcelos - Obrigado... e sempre ao dispor...
GR - Pois aí está o dedo na ferida. E a produção, e a economia real, o que produz coisas que só o trabalho (já passado ou vivo) produz para satisfazer as nossas necessidades. É o busilis!
Samuel - É claro. Como acabei de escrever acima. É isso tudo!

Abraços