terça-feira, janeiro 26, 2010

Shakespeare, a economia... e Marx - 1

Páginas do diário que não escrevi e das memórias que não escreverei (1)


Na recente viagem ao Brasil comprei (e ofereceram-me) muitos livros. Cada vez que entrava numa Travessa (nome de livraria espalhada pelo Rio), lá vinha eu carregado. E feliz da vida.


Como aqui deixei, na “mensagem” do 1º dia do ano, entre as várias coisas a fazer naquele "dia especial", havia esta

«(…) começar a ler o livro que encontrei, e oferecido me foi, no Brasil (na Travessa), e que mais me está a "piscar o olho", sendo grande a curiosidade, até porque não esqueço as citações que Marx fez de Shakespeare (e de Goethe) a propósito de dinheiro.


Pois vou buscar à memória (não ao diário que não escrevi nem às memórias que não escreverei) uma velha estória, a da minha ida ao Clube Militar Naval, então ali no Marquês de Pombal, para animar um debate sobre a desvalorização da libra em Novembro de 1967.


Antes disso… porquê esse convite? Talvez porque “escrevera” um livrinho sobre a desvalorização da libra, de que, noutro blog (som-da-tinta), deixei sinal:


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«A história de o (quase)diário de uma desvalorização, desta edição de Novembro de 1967, pode começar a ser contada transcrevendo o início do "antelóquio" que o abre:
«No jornal da manhã de 19. Numa manhã de domingo jornal-lido-na-cama. A libra desvalorizou. Não foi nada que nos obrigasse a saltar para o frio. Mas era uma notícia importante! E durante quatro dias, entre 19 e 23 (hoje), lemos, recortámos, anotámos o que nos ia passando pelas mãos. Primeiro, por necessidade profissional; depois, transcendendo-a; agora, fazendo nascer (e acarinhando) a ideia de comunicar aos outros o resultado em mim de umas horas dedicadas a um assunto. A um assunto que todos toca, interessados ou não. Aos grandes especuladores de Bolsas a sério, aos pequenos especuladores de meses-turismo para aguentar penúria-de-todo-o-ano. (...)»
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Um pormenor então não contado: antes de arrancar com o trabalho, telefonei para responsáveis da Seara Nova, de cuja redacção fazia parte, avisando que iria entregar um original sobre a desvalorização da libra, assunto muito importante, para sair no número de Dezembro. Resposta: impossível pois como eu sabia, para que o número estivesse no correio por forma a chegar a casa dos assinantes nos primeiros dias do mês todos os originais e paginação tinham de estar na tipografia até 20 do mês anterior! Definitivo... tivesse a libra desvalorizado mais cedo.
Fiquei "em pólvora". Atirei-me ao trabalho. Comprei um monte de jornais ingleses, franceses, espanhois, recortei, anotei ao lado, montei tudo numa sala de jantar transformada em “atelier”. Com a extraordinária ajuda de um amigo da Associação dos Estudantes de IST, responsável pela secção de folhas (o Carrilho), fizemos as montagens, fotografámos, levámos para a tipografia (a Novotipo, de um ex-companheiro de Caxias, das raras com off-set).
Ainda em Novembro, antes de sair a revista Seara Nova de Dezembro, a Prelo lançava o liv(inh)o (de 80 páginas) que deve ter sido o primeiro a ser publicado, em todo o mundo, sobre a desvalorização da libra.
Depois do "antelóquio", o sumário era:
• o significado da desvalorização
• antecedentes próximos
• a decisão e os objectivos
• respostas internas
• reacções internacionais
• a posição da Espanha
• a posição de Portugal
• os Estados-Unidos
• "mercado comum"
• a corrida ao ouro e o sistema (monetário-internacional)»



(continua)

2 comentários:

Maria disse...

Lembrei-me de uma conversa antiga...
E lembro-me muito bem desta desvalorização da libra, e de um dos donos deste país ter acordado no dia seguinte, sem saber como nem porquê, ainda mais rico. É que durante a noite tinham vindo toneladas de ferro de Inglaterra para ele, para cá...

Um beijo.

Graciete Rietsch disse...

Queria continuar a ler e ficar mais elucidada sobre esse fenómeno da desvalorização da moeda.
Beijos.