sexta-feira, janeiro 01, 2010

Notas ainda caRIOcas - 19 - em pequena crónica

Começou por nos intrigar. Nas montras das lojas, que quereria dizer a marcação, ao lado do preço de cada artigo, um número e o sinal de multiplicar (3x ou 4x ou 5x ou...).
Antes mesmo de perguntar a quem nos serviu de guia - solícito, amigo, fraterno - tivemos a resposta.
Faça-se a crónica.
Como não podia deixar de ser, a exemplo do Vietnam e de Nova Iorque, surgiu-me um problema. Com sandálias. E, desta vez, a cura só podia ser a compra. A primeira a fazer... porque os pés escaldavam dentro dos sapatos ou dos "ténis".

Vai daí... entrados numa loja com larga oferta, feita a escolha (e aprovada por quem "de direito"), passei à caixa e a simpática morena (são todas...) perguntou-me se queria repartir o pagamento em prestações. E explicou-se melhor, dada a minha surpresa. De estrangeiro.
Aquela compra podia ser paga em três prestações (3x!). Pus dúvidas que me foram prontamente esclarecidas. Era fácil. O sistema está montado para a modalidade de pagar em três suaves prestações. Até para estrangeiros. Agradeci, mas paguei de uma só vez. Sem descontos, como não teria juros se fosse em três parcelas.
Guardei o episódio como curioso, e fomos todos à vida, isto é, à rua, ao passeio. Com os pézinhos confortavelmente arejados...
.
Depois, nas reflexões, por vezes lentas, o episódio voltou e serviu de ilustração para uma das formas como, no Brasil, se enfrentou a "crise": estimulando o consumo interno. Em direcção aos estratos populacionais com maior propensão ao consumo por mais longe da satisfação das necessidades reais. Como esta de ter umas sandalinhas (made in Brasil) nos pés...

4 comentários:

Anónimo disse...

É o acordo entre marketing, finanças e a criatividade: vende-se em 2, 3, 5, 10 e até 17 vezes "sem juros". As aspas ficam por conta de que, naturalmente, os juros estão considerados no valor anunciado, nestes casos, como à vista (contribuição do Depto. Financeiro).
Ao oferecer pagar à vista - e querer por isto um desconto - em boa parte das vezes ele é negado (principalmente quando o nº de vezes é "pequeno"). Consola-se assim o Depto de Marketing.
Some-se a criatividade de ambos os "departamentos" que, vivido no passado um Brasil de altíssima inflação, os juros embutidos nas tais 3 ou 5 vezes, passam como desapercebidos, ou consentidos emocionalmente porque viabilizam o consumo...e os sonhos!

jrd disse...

Criativo.
Por cá cultiva-se uma espécie de salário 'regime' que, cada vez mais, dá para comprar menos.Mesmo que seja a prestações (sem juros, dizem eles).

Anónimo disse...

Caro Sergio,

Enfrentar a crise é como quem diz. Há mais de dez anos já assim era, portanto antes "desta" crise. È claro que também já era para estimular o consumo mas, essencialmente, porque os salários eram, e continum a ser, muito baixos para a generalidade das classes trabalhadoras ...

Um abraço,
Nuno

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado pelos comentários que muito vieram valorizar a minha... crónica de umas sandálias pagas a pronto, ou à vista.

Por outro lado, sublinho que é diferente esta "criativa" modalidade com a do "crédito" puro e duro, tipo "viaje agora pague depois" ou "compre a sua habitação que o banco empresta".

Abraços