sexta-feira, janeiro 22, 2010

Estacionamento proibido, de António Rebordão Navarro

Dezembro de 1957
Circulem, senhores, circulem.

Não parem junto aos mortos,
não estacionem no silêncio,
não se detenham ante o sangue.

Circulem, senhores, circulem.

Não interrompam o tráfico,
não deixem de cumprir ordans,
não deixem de ser neutros
e desapiedados.

Circulem. senhores, circulem.

Há muita gente que tem horas,
há muita gente que tem pressa,
há muita gente que deve esquecer.

Circulem, senhores, circulem.

Façam de conta,
fechem os olhos,
tapem os ouvidos.

Circulem, senhores, circulem.

Deviam já estar habituados.
deviam não ter lágrimas,
nem espanto, nem irmãos.

Circulem, senhores, circulem

2 comentários:

Maria disse...

Ele há cada coincidência...
Numa sessão de leitura, anteontem, ouvi este poema...

Beijo

Graciete Rietsch disse...

É muito bom este poema. E eu não o conhecia apesar de conhecer o António Rebordão Navarro e ele ter sido colega dos meus irmãos.
Um abraço.