segunda-feira, dezembro 14, 2009

Notas cariocas - 2

  • Vejo em O Globo que morreu Paul Samuelson.

É curioso. Aos 94 anos morre um homem que eu julgava que me era indiferente e, ao saber da sua morte, é como se tivesse morrido alguém familiar. Em 1953, ao entrar no ISCEF, apanhei com "os 3 mosqueteiros", Jacinto Nunes, Pereira de Moura e Teixeira Pinto - por esta ordem, alfabética e não só... mas demoraria a explicar, guardando de Pereira de Moura uma saudade amiga -, três jovens docentes que nos apresentaram a economia... por via de Samuelson, do seu Economics: an introductory analysis. O que era, digo-o hoje, arrojado, quase revolucionário porque anti-fascista. Com essas ajudas, havia um certo Keynes que estava na sombra, e um certo Marx na clandestinidade (de que Adérito Sedas Nunes nos abriu frestas um pouco mais tarde). Por Samuelson nos chegaram ferramentas, e foi ainda em Samuelson, que nada tinha de revolucionário, que encontrámos a resistência, dentro do sistema capitalisma, à deriva monetarista, de Friedman, caldo de cultura do neo e ultra-liberalismo, da ideologia do pensamento único da "economia de mercado". Por isso, o silêncio sobre Samuelson nestas últimas décadas e o seu ressurgimento, quando morre fisicamente, e "a crise" exige a recuperação de quem possa servir Itálicoo sistema negando o o neo-liberalismo. Mas não será suficiente. Como não o será Keynes. Porque navegar (em Marx) é preciso.

  • Ao lado da notícia (extensa) sobre a morte de Samuelson, um colunista "de referência", George Vidor, com Precipitados.

Apetece dizer "nem de propósito". A propósito de Samuelson. A escrever sobre a economia brasileira, o comentador salienta que o seu ritmo de crescimento anual está nos 5%, e que a necessidade de investimento (da FBCF), para sustentar esse crescimento, é equivalente a 20% do PIB, para poder dispensar os financiamentos externos que, diz o colunista, "podem tornar o país mais vulnerável a crises vindas de fora". Pois os dados estatísticos oficiais do 3º trimestre fazem prever que o ano possa fechar com uma taxa de investimento à volta de 19%. É interessante que também sublinhe que, num país como o Brasil, o grande desafio seja o de viver, economicamente, com baixas taxas de juro, contra aquilo a que tem estado habituado.

  • Outra nota que virei a desenvolver (um pouco...) será sobre a cimeira de Copenhague.

Vista daqui, a Cimeira parece outra. Tem-se uma perspectiva bem diferente da que se tem a partir de uns Estados Unidos ou de uma... "União Europeia". E é preciso, actualmente, não menosprezar a importância desta perspectiva. A possibilidade de "chantagear" a partir de "centro" parece estar diminuindo.

Sem comentários: