quarta-feira, dezembro 16, 2009

Excertos de cartas de um certo Carlos, alemão, a um tal Frederico, "inglês", e a outros amigos (alguns nem por isso...) - 10

Vou encerrar esta série com uma carta a Sorge (alemão - 1828-1906 - participou na revolução de 1848-1849 na Alemanha e, depois da derrota, emigrou para a América, onde continuou a participar activamente no movimento operário).
Termino-a com uma chamada de atenção para a última frase, na continuidade do que me pareceu de sublinhar na anterior carta.
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15 de Dezembro de 1881

... Os ingleses começam a ocupar-se com O Capital. Assim, no último número de Contemporany, um artigo de John Rae, German Socialism (muito insuficiente, cheio de erros, mas fair como me dizia ontem um dos meus amigos ingleses). E porquê fair?, porque Joh Rae "não supõe" que, durante quarenta anos ocupados a propagar as minhas perniciosas teorias, eu tivesse sido inspirado por "más intenções". Tenho de referir a sua generosidade e a honestidade que consiste em, pelo menos, ter um certo conhecimento de um livro crítico que parecia desconhecido pelos primitivos do filistinismo britânico.
Antes do aparecimento deste artigo, um certo Hundman publicou um pequeno livro, England for all, pretensamente uma exposição do programa da Democratic Federation (recentemente constituída por um grupo de radicais ingleses e escoceses, meio burgueses, meio proletários). Os capítulos sobre o trabalho e o capital são extractos ou paráfrases de O Capital, mas Hundman não cita nem o livro nem o seu autor... Ele escreveu-me cartas com pedidos de desculpas, dizendo que os ingleses não gostam de ser instruídos por estrangeiros, que o meu nome era muito detestado, etc. Este pequeno livro - até na medida em que plagia O Capital - faz uma boa propaganda.
Ultimamente a revista mensal Modern Thought publicou um artigo intitulado "Leaders of modern thought, nº XXIII: Karl Marx", por Ernest Beldfort Bax. Ora bem, foi a primeira vez que um artigo deste género exprimiu um tal entusiasmo por ideias novas e uma tão dura condenação do filistinismo britânico. O que não impede que as informações biográficas dadas pelo autor a meu respeito sejam, na sua maior parte, falsas... O aparecimento do artigo foi anunciado em grandes letras em cartazes nas paredes de Londres e fez grande sensação.
O mais importante para mim foi ter recebido o Modern Thought antes de 30 de Novembro, pelo que foi possível que a minha querida mulher ainda tivesse tido uma alegria nos últimos dias da sua vida.
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morreu a 14 de Março de 1883

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