domingo, dezembro 06, 2009

Era uma vez...

Era uma vez um governo com base numa maioria relativa no parlamento que queria governar como se tivesse maioria absoluta.
Era uma vez um partido que, sem maioria absoluta, tendo perdido 24 deputados e meio milhão de votos, se queixa de não o deixarem governar como se tivesse ganho absolutamente as eleições.
Era uma vez um governo que, por ter apoio apenas de uma maioria relativa, precisava de se apoiar - ou à sua direita ou à sua esquerda - para fazer passar as decisões que necessitam de maioria parlamentar, e que acha que não tem de o fazer, com a postura de um ganhador absoluto das eleições que perdeu ou que não ganhou.
Era uma vez uma tese da ingovernabilidade que vem da campanha eleitoral e assentou arraiais nestes primeiros meses de desgovernação.
Era uma vez um campanha (ou mais que uma) de vitimização de "nós" e de (co-)responsabilização dos "outros".
Era uma vez um FMI como sempre foi (desde as "cartas de intenções" do final dos anos 70 que colocaram Portugal neste caminho), e uma UE como vai sendo.
Era uma vez uns tempos difíceis - de abandono do nosso mar e da nossa terra, de rastro de grandes fábricas vazias e de muitos postos de trabalho perdidos, de pequenas empresas desaparecendo, de uma situação social em degradação, de desemprego galopante - ... mas só para muitos, que para alguns não.
Era uma vez um tempo de décadas no tempo de séculos.
Era uma vez um País que já não é, e que ainda não é e parece cada vez mas longe, mas que há-de ser.

5 comentários:

Justine disse...

Um lamento sofrido - mas com a cintilação da certeza!
Dá força ler-te:))

samuel disse...

Era uma e outra e outra vez... mas se há coisa boa que as estórias têm é o virar das páginas. Também a História!

Abraço.

jrd disse...

Era uma vez um embuste, depois de muitos outros e antes de mais alguns.
Ainda estamos no tempo dos embusteiros.
Boa semana

poesianopopular disse...

Era uma vez um povo, que, cansado de esperar ajoelhado se levantou; mas,voltou a ajoelhar-se, esperando que a bondade suprema da tua vizinha, resolva os problemas!
Abraço

Manuel Rodrigues disse...

Era uma vez... e voltará a ser mil vezes mais... a caminho do futuro...