sábado, outubro 31, 2009

Necessidades e luxos (em O Capital)

Agora é que é.

Em tempos há muito idos, preocupei-me com esta distinção entre o que são consumos de bens ou produtos necessários e consumos de bens ou produtos "de luxo". A propósito dos medicamentos, e como tarefa profissional de "economista de empresa".

Então, os medicamentos eram "luxo" para determinados estratos populacionais porque havia... elastecidade relativamente aos rendimentos. Ou seja, se os salários perdiam poder de compra, cortava-se nos bens ou produtos "de luxo", porque os que satisfaziam necessidade não se podiam comprimir. E as necessidades eram, e são, o pão, algum peixe (sardinha, pelo menos) alguma carne (pouca), roupa (nada a ver com moda), transportes (para e do trabalho), um tecto (e recheio de casa)! Para isto, os salários têm de chegar.

Agora, a estudar o Tomo V de O Capital, encontro essa divisão explícita, embora noutro tempo, noutro contexto e para outras finalidades. Marx divide os sectores da produção de mercadorias em sector I, de meios de produção, e sector II, de meios de consumo, e, no sector II, entre meios de consumo necessários e meios de consumo de luxo.

Nessa floresta densa de conhecimentos e ensinamentos, que procuro ir sistematizando para não me perder, de vez em quando lá aparecem uns raios de sol, como que a orientarem-me. Este, por exemplo:


"Para a nossa finalidade, podemos reunir todo este subsector na rúbrica: meios de consumo necessários, em que é totalmente indiferente se um produto real. p. ex., como o tabaco é, do ponto de vista fisiológico, um meio de consumo necessário ou não; basta que, em conformidade com o hábito, [ele é] um tal [meio de consumo necessário]." (pág. 421)


As mangas para que dá este pano!

2 comentários:

Unknown disse...

"Isto" é de uma abertura muito sedutora! Ainda acabo por ler o livro, queres ver??? :))

Antuã disse...

nestes tempos "modernos e inovadores" que a direita (CDS, PSD e PS) nos oferecem não falta para aí muita gente que tem que decidir entre comprar medicamentos por vezes vitais e a comidinha.