terça-feira, agosto 19, 2008

Materialismo histórico - 18

Com as novas relações de produção, correspondendo ao desenvolvimento das forças produtivas, a sociedade deixou de ser predominantemente comunitária e começou a cindir-se em três grupos, formados em função das suas posições relativamente aos instrumentos de trabalho.
Eram i) os detentores dos instrumentos de trabalho, antes de todos os escravos, principal força produtiva, eram ii) os escravos e eram iii) os seres humanos livres, embora estes últimos, com o tempo, tendessem a tornar-se ou em escravos ou em detentores de instrumentos de trabalho, que não escravos, dominando a sua própria utilização.
Este processo é determinado pela evolução das forças produtivas. O braço que se prolongava com o ramo, a que se juntava a pedra, é também o braço que se prolongou do mesmo modo e criou o arado, que passou a revolver a terra, e a fazê-la produzir. Ainda não se tinham domesticado animais de (ou para) tracção mas o “outro”, o escravo, servia para conduzir o arado e para transportar de um lugar para outro o que antes de haver escravos era mais difícil de deslocar por menor ser a força de trabalho ou ser o esforço insuficiente. E para fazer tudo o que o proprietário desse seu instrumento, ou até objecto, quisesse
A tracção por arrastamento era penosa e, até à descoberta-invenção da roda, exigia um esforço por vezes sobre-humano. Esta descoberta ilustra, de forma evidente, o desenvolvimento das forças produtivas. Há quem considere a invenção de roda como a que possibilitou a maior transformação de todo o processo histórico, o que, sendo naturalmente discutível, não deixa de ter sentido se se pensar como tudo seria impossível sem a existência da roda que tudo antecede.

Quando cada indivíduo, ou a comunidade em que se integrava, apenas colhia ou produzia o estritamente necessário para sobreviver, era impossível a exploração do homem pelo homem. Só quando o domínio sobre a natureza e a crescente disponibilidade de meios de produção passou a permitir que se colhessem ou produzissem mais bens que os necessários para a sobrevivência do produtor (ou da comunidade) é que foi possível um grupo de seres humanos fazer trabalhar outros seres humanos, retendo para si o sobre-produto do seu labor, o que sobrava do necessário para a sua própria sobrevivência.
E se assim, neste modo de produção, começou a exploração do homem pelo homem, também a História começou a ser a história da luta de classes.
___________________
Foto de Sebastião Salgado

9 comentários:

Justine disse...

Muito clara, a "lição" de hoje!
E as ilustrações estão excelentes,até na diferença de "tom": a foto quase sinistra, o desenho divertido.

Anónimo disse...

Clarinha como a água. E venha quem vier tentar torcer tudo não adianta porque é mesmo a luta de classes, estúpidos.

Campaniça

Maria disse...

Não estranho que os teus antigos alunos se lembrem de ti com carinho.
Afinal não há professores que expliquem coisas simples de uma forma... tão clara, linguagem incluída. Acessível a todos.

Obrigada, Sérgio
(gosto dos "trogloditas"...)

Um abraço

Fernando Samuel disse...

De facto, isto anda tudo ligado...

Um abraço.

Sérgio Ribeiro disse...

Eu vou tentando, mas confesso (ando muito de confissões...) que me custa parar (então depois da roda... só me apetece acelerar), e não quero escrever de rajada vários passos sem passar pelos vossos comentários para ir "tomando o pulso"... Dificuldades de escriba!
Saudações reconhecidas para todos os que.

samuel disse...

Bela "chegada" à exploração do homem pelo homem e à luta de classes!
Ah... e a roda, parece-me que foi inventada por um escravo... :)))

Abraço

Anónimo disse...

... por uns escravos que estavam cansados de puxar pesos enormes por arrastamento e maus caminhos...

Anónimo disse...

-Que bom !... arrasta que arrasta lá chegamos a "Estação" Luta de Classes, onde nos espera um comboio com rodas. lá estão as carruagens divididas por classes... Só falta mesmo o Chefe dar ordens de partida levantando a bandeira vermelha e soprando no apito. -Pois a malta já está toda acomodada para a luta ...claro!
a.ferreira

Sérgio Ribeiro disse...

Pois claro que está. Se há classes, há luta... mesmo que desta não se tenha consciência (nem os que nela estão totalmente mergulhados).
A partir do esclavagismo, o mundo começou a ter outra história.