terça-feira, julho 15, 2008

o "horror económico"

Final de uma intervenção na Assembleia Municipal de Ourém, de hoje, de onde venho a precisar de desabafar:

(...) Considero que a prossecução de fim público e uso colectivo através de uma sociedade comercial anónima de direito privado representa uma demissão do sector público das suas mais nobres funções. Citaria – vejam lá quem!... – o professor Adriano Moreira que disse que vivemos numa verdadeira teologia do mercado. Não obstante, haverá quem não venda a alma ao negócio para conseguir objectivos quaisquer que sejam.
Senhora Presidente, Rimbaud falou do pobre turista ingénuo que, indiferente aos horrores económicos, tremia à passagem de cavalgadas e hordas. Turista não sou, ingénuo já deixei de ser, em nada me é indiferente o horror económico, de que Viviane Forrester fez o título de um livro que é um libelo.
Nós, eleitos pelos nossos concidadãos para defender o interesse público, não podemos aceitar que não haja critérios diferentes para o que é – e com toda a legitimidade – o interesse privado e para o que é o interesse público. Como perguntava Forrester deixará de ser útil a vida do que não dá lucro aos lucros?
Como é evidente, e não obstante a compreensão para quem não encontra saídas senão no pragmatismo e para quem acha que deixou de haver almoços grátis, não aceito estas engenharias financeiras, recuso este caminho e votarei contra.
Por princípio! E basta.
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É duro.
O único voto contra foi o do PCP... de que sou o único eleito! Os três vereadores do PS (em 7, 4 PSD) e os membros do PS na AM votaram a favor... por princípio!
(não conferi as citações)

8 comentários:

MJ disse...

São os destros ao lado da direita. Um sodalício de endireitas retorcidos é o que é.

Um grande abraço Sérgio.

Anónimo disse...

É verdade é duro.
Neste tempo do liberalismo desenfreado e de que privado é que é bom, é duro, muito duro ter que estar (quase) sempre contra as propostas mais mirabolantes.
Sou duma região onde impera o PSD, quer seja nas câmaras assembleias municipais e assembleias de freguesia.
Certo dia participei na reunião da A. F. em que se discutia o plano de actividades e a coisa pareceu tão má e de falta de propósito que no final saí encolhendo os ombros, um funcionário vizinho de infância e colega de escola, perguntou-me: não me digas que votavas contra (os membros da A. F. votaram todos a favor )? De pronto respondi: por princípio votava. Blá, blá …mais à frente dirigiu-me uma frase que me deixou no momento sem palavras, despedi-me e segui caminho completamente aturdido e a gaguejar, disse ele “se eu fosse do Seixal também era comunista”!!! Assim não, assim não é fácil.
Ilustrando: C.M. em 3, 3 PSD; A.M. em 3, 3 PSD; A.F.: 19 - 11 PSD; 12 - 7 PSD; 12 - 8 PSD. Água ao domicilio 30 a 40 % da população, saneamento igual ou pior. Mas, Lafões é um jardim. B M A

Justine disse...

Como queres tu que essa gente te perceba, se vais para a AM falar de Rimbaud e da Forrester! A tua intervenção é uma pérola deitada a porcos, feios e maus, muito maus...

Anónimo disse...

Mantem-se elevado o meu respeito pela honestidade intelectual do Prof. Adriano Moreira. Se houvesse mais gente assim do lado da Direita, até que seria possível conversar.

Anónimo disse...

-Embora não acredite que fosses com este paleio todo para a assembleia acho muito bem que aqui no teu blog
fales "bonito" que o Povo também tem direito à cultura mesmo que não perceba; há-de haver sempre alguém, por ex."eu" que procure saber aquilo que quiseste dizer.
a.ferreira

PJNS disse...

Ourem e como outros sitios de Portugal, penso eu ser a maioria dos locais, nao ha massa critica dos eleitos. Exemplos nao faltam, a secretaria de uma mesa de voto, do PS, em Loures nem sabia multiplicar, uma vergonha.
2009 sera o ano da mudanca, nao e possivel continuar neste caminho para o precipicio que e o que esta politica do PS/PSD/CDS nos tem levado.

Fernando Samuel disse...

e o que é que esperavas, meu amigo?

Sérgio Ribeiro disse...

A razão para colocar aqui este post não é a surpresa ou, sequer, a indignação que motiva outros postagens.
É, simultaneamente, um desbafo, uma tristeza, uma satisfação. Porque gosto do que disse e porque houve - vejam lá - quem tivesse gostado... apesar de ter votado como votou. Há sempre sementes que caem na terra que está enre os pedregulhos!
A luta continua (SEMPRE) e toma formas por vezes inóspitas.