quarta-feira, novembro 07, 2007

Apontamento para um diário

De vez em quando, só de rara vez em rara vez, sou “atirado aos bichos”.
E vou. Depois de confirmada a utilidade da tarefa.
Já tempos houve (e muitos tempos foram) em que com eles, com os “bichos”, convivi. Era, então, a tarefa.
Agora, recebido o “convite”, e confirmada a utilidade de ir, lá fui eu. De visita.
Saí da toca, da loca, do “refúgio”, e fiz o caminho. Como o faço a mor das vezes. De carro até à rodoviária da Cova da Iria e, daí, para onde for.
Apanhei o “expresso”, e rodas a caminho.
Desci em Sete Rios, no local também conhecido por Jardim Zoológico, e, em vez de entrar na residência “daqueles outros" bichos, troquei o táxi a que tinha direito pelo gosto da boleia do Gonçalo e fomos jantar a Carnide. E, de troca em troca, troquei o jantar a que também tinha direito, por um jantarinho familiar (e à pressa), com os meus filhos e respectiva mãe, num dos restaurantes daquela espécie de vila, à pala da Ângela que ali, na “vila de Carnide” é uma senhora herdeira, mas modesta, mas modesta, como eu o sou do Zambujal…
Foi bom!
(e, acrescente-se que, por nada estar a custar ao Estado, estava a ajudar a diminuir o défice do Orçamento de Estado que era o tema da minha ida ao Prós e Contras, o que me deu ainda mais moral para estar nos Contras, ou melhor: por ser o único a estar no contra que significa alguma coisa e não politiquice lá deles).
.
Acabado (a correr) o jantar, quis fazer, a pé e com os meus botões e inhabitual gravata, a caminhada até ao sítio do palco-poleiro-montra. Onde fiz o melhor que fui capaz , ao serviço do que escolhi ser e servir.
.
Depois, bem… depois de ter tentado dormir umas horitas no apartamento vazio da Zé (o que estranho sempre), regressei à terra, à toca, à loca, ao “refúgio”, ao hóquei, a mim.
No entanto, durante uns dias serei diferente para os outros. Serei “o que foi à televisão”.
Poderão, muitos, não ter ouvido uma palavra do que eu disse. Poderão, poucos, ter estado em total desacordo com o que se esforçaram por me ouvir. Mas… estive em casa deles, naquele rectângulo mágico, mítico, onde só entram os marcelos, os vitorinos, os sousatavares e outros entes de um outro mundo ou “jardim zoológico” (e os sortudos dos concursos…). E serei, por uns dias!, parte “desses”, das figuras mágicas, míticas.
“O que foi à televisão”… e que, com ministros e outros senhores importantes, discutiu taco-a-taco e até disse coisas.
.
Posso queimar as pestanas a informar-me, a aprender, posso perder (?) noites a escrever páginas e páginas de aturada reflexão sobre mim e os outros e o que por cá andamos a fazer, posso publicá-las em pasquins locais ou em livros de centenas de páginas com teses de doutoramento ou descobertas históricas. Posso tudo isso, e tudo isso nada vale uns minutos de imagem, mesmo que só de imagem…, em que apareça no meio dos “bichos”, para onde me atirarem tarefas, militância.
E é o espanto, a admiração, a reverência, temporários quer um quer outras,… até porque “bicho” não sou. Estive. Ou melhor: sou, para todos, um “bicho” esquisito, de uma outra “selva”. Perigoso, decerto, o tipo de “bicho”; terrível, com certeza, aqueloutra “selva. Espectral.
No final das contas (e não contas de orçamentos…), até sou, pelo menos pareço, igualzinho a todos os outros… a quem não é “bicho” que vá à televisão. E sou. Embora não seja…

10 comentários:

Maria disse...

E estiveste muito bem.
Natural, sereno e palavras claras, de quem sabe ter a razão do seu lado...

Um abraço

Anónimo disse...

Felizmente que és mesmo um "bicho" diferente, mesmo indo - raramente - à televisão, mas onde deverias ir muito mais vezes, para que outra voz se ouvisse entre aquela "bicharada" que nós sabemos, bem instalada na arrogência do poder!
A reflexão sobre todo o episódio está excelente.

GR disse...

Vais à Cova de Iria???!!! Pensava que C.I. era onde esta a igreja em Fátima!
É a 1ª vez que “ouço” falar na C.I., sem ser na igreja de Fátima. Esquisito!

Tenho uma antipatia especial pelas Fátima(s) e das bocas foleiras que mandam!
Quando disseste: “…as viúva da minha aldeia…”, a Fátinha disse: “…as da cidade! as da cidade estão em pior situação, têm mais gastos!”, logo tu: “só conheço as da minha aldeia!” cá em casa deu para todo o tipo de comentários. Tão bem a Fátinha os compreendia, como tripeira que é!

Falando sério,

Foi excelente e necessária a tua presença no programa Prós e Prós. Desta vez houve um contra! Tu!
O grande mal da direita
reaccionária, leia-se; Administração da RTP, não deixarem ir comunistas ao programa é que, os comunistas falam verdade, são perceptíveis e no teu caso, fizeste um figurão. Nesta “caixa” a imagem é muito importante!
Em abono da verdade, já não és “O que foi à televisão”, durante anos fizeste o programa Parlamento.
Como gostávamos de te ouvir e ver!
Espero que vás muitas vezes, para ler mais uma magnífica narração!

GR

Anónimo disse...

não vi o programa, tenho uma aversão ganha através de alguns programas que vi ao principio.

Mas a reflexão constante deste post é bem um ensinamento acerca da importância de se controlar as TVs para manipular o povo

Anónimo disse...

Estava cheio de vergonha...
Agora estou também cheio de dor de cotovelo.

Ricardo

samuel disse...

Caro Sérgio
Comentário devidamente fundamentado:

Não te vi na televisão, mas se tivesse visto tinha gostado!

Anónimo disse...

Ora p.... não sabia que ias à selva sem aspas. Na Amazónia devias estar mais seguro. Não vi mas garanto-te que tinha ficado muito vaidoso. Um abraço.

O Beco disse...

Vou ser curto e grosso:
Nunca pensei gostar tanto de um comando de televisão, sempre que os bichos falavam, cortava-lhes o piu.
Mas ouvi-te e gostei muito!!!

Um grd abraço

Mar Arável disse...

A TUA PARTICIPAÇÃO FOI UMA PEDRA

NAQUELE CHARCO.

ABRAÇO AMIGO

Anónimo disse...

Obrigado a todos.
Penso que as minhas possíveis respostas estão todas no "apontamento". Mas, se todas os comentários me deram grande satisfação pessoal ( e críticas seriam muito bem-vindas e igual satisfação me teriam dado) não posso deixar de dizer que o do Samuel me fez rir a valer, pela ironia... a que respondo dizendo-lhe que, por uma questão de princípio, não aceito (nem passo)cheques em branco.
Para todos um grande abraço