segunda-feira, abril 03, 2006

Talvez desabafo...

Nunca se está de acordo sempre e em tudo que o outro, um qualquer outro[1], diz e pensa.
Então… porque tropeço, com tanta frequência, na afirmação de outros que, mesmo ou sobretudo quando estão de acordo comigo ou me reconhecem méritos, "contudo" relevam, enfaticamente, a reserva de não estarem de acordo comigo sempre e em tudo?
Mesmo os/as que mais próximos/as de mim estão e são, amigos/as, companheiros/a.
Será que isto em que tropeço são manifestações de um complexo de inferioridade deles/as, não em relação a mim mas ao que sou, ao que digo e penso?
Ou sentir isto será manifestação de um complexo de perseguição deste meu lado, não meu mas daquilo que sou, penso e digo, relativamente aos outros?
Julgo que não há razão (razões) para complexos.
Nem o que sou, a pele do que sou e não a farda ou a batina[2] que vesti, se quer superior porque é uma maneira de ser, de vivo estar, nem a maioria daqueles em que tropeço me perseguem, não a mim mas ao que digo e penso, isto é, o que sou com outros de antes e de hoje.
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[1] Embora eu também seja o outro, o que não é contraditório porque ninguém estará sempre e em tudo de acordo consigo próprio.
[2] Esta (nova…) tem a ver com a novidade com que o Quim Castilho amigavelmente me atirou, como carapuça que não vejo jeito de me servir.

2 comentários:

Anónimo disse...

Desproposito:
Extractos do Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 9 de Abril de 2002:
O Ministério Público deduziu acusação pela prática de crime de ameaças porque "durante uma discussão, o arguido ameaçou o ofendido, dizendo que lhe dava um tiro nos cornos".
O Juiz decidiu não receber a acusação "porque inexiste crime de ameaças simplesmente pelo facto de o ofendido não ter «cornos», face a que se trata de um ser humano.
O Ministério Público recorreu da decisão, tendo o Tribunal da Relação de Lisboa acolhido o seu recurso, dando-lhe razão, remetendo-se o processo para julgamento pelos motivos:
- Se é por o visado não ter cornos estar-se-ia então perante uma tentativa impossível? Parece-nos evidente que não.
- Será porque por não ter cornos não tem de ter medo, já que não é possível ser atingido no que não se tem?
- Num país de tradições tauromáquicas e de moral marialva, não é pouco vulgar dirigir a alguém expressão que inclua a referida terminologia. Assim, quer atribuindo a alguém o facto de "ter cornos" ou de alguém "os andar a pôr a outrem" ou simplesmente de se "ser corno" tem significado conhecido e conotação desonrosa, especialmente se o seu detentor for de sexo masculino, face às regras de uma moral social vigente machista. Já relativamente à cara se tem preferido, em contexto idêntico, a expressão «focinho».
Não há dúvida de que se preenche o crime de ameaças uma vez que a atitude e palavras usadas são idóneas a provocar na pessoa do queixoso o receio de vir a ser atingido por um tiro mortal, posto que o local ameaçado era ponto vital".

PS: NUM PAÍS DESTES ESTOU MESMO A PRECISAR DE FERIAS JUDICIAIS.

Sérgio Ribeiro disse...

Que deleite. De leite? Esta língua portuguesa...
Mas ainda bem que há quem não tenha perdido o sentido da ironia (ah! g'anda sf!) e, mesmo em acordãos, ou acordeons, nos faça sorrir com trechos como aquele. Obrigado pelo despropósito.

A partir do critério do juiz da 1ª instância chamar filho da puta a alguém só ofenderia se o dito cujo tivesse por mãezinha alguém que praticasse ou tivesse praticado esse modo de ganhar (?) a vida e, nesse caso, não ofenderia porque era verdade. Não é verdade?
Ou seja, só é ameaça dar um "tiro nos cornos" a alguém se a esposa dessoutro dito cujo lhos tiver posto, não bastando que o ameaçador presuma que ele os terá e intentar disparar no meio do sítio em em que eles-os-corninhos deveriam estar... se estivessem?

Cada vez aprecio mais os escaninhos da justiça, e das habilidades para que justiça não se faça. Desde que haja dinheirinho para pagar a advogados desses... desses que são bons nessas habilidades.