quinta-feira, abril 06, 2006

Fé (e convicção)

Ontem, na leitura que antecede o adormecer, nem sempre fácil, tropecei numa frase que esperou por hoje para aqui a colocar.
Estou a ler "Álvaro Cunhal - íntimo e pessoal", de Miguel Carvalho, livro recentemente editado, que é uma espécie de dicionário com mais de 500 "entradas". Comprei-o, meio desconfiado, mas está a ser interessante a leitura.
Ontem, ia na letra F, e encontrei uma "entrada" que me lembrou a "conversa" que aqui tivemos sobre crenças e convicções. E. sem qualquer intenção de trazer "argumento de autoridade", reproduzo o que Álvaro Cunhal escreveu no "Público", em 17 de Abril de 1996, e que diz melhor o que eu quis dizer quando sobre o tema escrevi:

"Fé - distingo a convicção da fé. A fé é a crença em qualquer coisa que não está provada, em termos objectivos. Qualquer coisa que não se viu, mas em que se acredita. A convicção não. A convicção resulta da observação com verdade dos factos, dos acontecimentos da vida. Eu não tenho fé. Tenho convicção, que é uma coisa diferente. A convicção não seria convicção - e seria fé - se não houvesse espaço para as dúvidas."

Não pretendo relançar a discussão... mas se acontecer, venha ela. É sempre benvinda quando os interlocutores estão de boa... fé!

8 comentários:

Nuno Abreu disse...

Também eu distingo a convicção de fé.
Por ter fé, tenho convicções. Por ter convicções tenho fé.
Não é preciso ver para ter fé, porque ela não se vê, sente-se.
Nunca vi o vento, mas não tenho dúvidas que ele exista, porque o sinto.

Provas? Muitas. Open your mind!

Um abraço

Sérgio Ribeiro disse...

My mind is open... ao vento. Que não vejo, mas que tenho a convicção que existe, que sei porque existe, para o qual tenho explicações (sem prejuizo das dúvidas).
E devo dizer-te da alegria de te ver comentar, e desta maneira.
Já valeu a pena o post!
Aleluia...

Anónimo disse...

O camarada Álvaro, comentava tudo com um detalhe, por mais complexo de fosse, parecia fácil.
É exactamente assim!
Nem uma palavra a mais, nem uma letra a menos!

Ainda não li o livro. Encomendado desde quando foi anunciado, não chegou ainda, à minha aldeia! Que irritação!

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Pois é, na tua aldeia não há um som da tinta...
Não queres abrir uma sucursal?

Anónimo disse...

No que a religião diz respeito presume-se, então, não tem fé tem convicções - Convictamente ateu.
Convicções em factos observados e provados, ou a falta deles.
Mas como se prova a inesxistência de algo intangivel?
E se entender convicção como certeza obtida por factos ou razões, que não deixam dúvida nem dão lugar a objecção, que espaço para duvidas resta?
Explicar o inexplicavel ou tenta-lo depende sempre da veracidade que se quer ou consegue dar às provas. É uma questão de fé!

Sérgio Ribeiro disse...

Distingo estados/estádios:
a) tenho esta convicção; b) estou convencido; c) tenho a certeza.
As convicções têm de conviver com as dúvidas. E a procura constante. O aprender, aprender, aprender sempre. Sempre mais. Com a certeza de que nunca será tudo.

Anónimo disse...

Depreendo então que em religião necessita de ouvir algumas considerações!

Sérgio Ribeiro disse...

Também em religião... aprender, aprender, aprender sempre.
A(s) religião(ões) é/são construção/construções humanas, e tudo quanto respeita ao humano deve interessar o humano, deve motivar o estudo, o aprender, aprender, aprender sempre.
Neste caso... onde está a dúvida?